Divino é, e eterno o Espírito.
A Ele, cuja imagem e instrumento somos,
conduz o nosso caminho, e é nosso
querido anseio
chegar a ser como Ele. brilhar com sua luz.
Mas nascemos do barro e mortais somos
e inerte pesa sobre nós, criaturas, a gravidade.
Ainda que do amor e cuidados maternos nos brinde a Natureza,
É a terra que nos alimenta e, seja berço ou túmulo,
a paz não nos outorga;
paternal e providente, desfaz
a centelha do Espírito imortal
encanto amoroso da Natureza:
Ao se tornar homem a criança, dilui a inocência
e nos desperta para a luta e a consciência.
Assim, entre pai e mãe,
como, entre corpo e espírito
hesita o filho mais frágil da Criação:
o homem de alma temerosa, porém capaz do mais
sublime: um amor mais fiel e esperançoso.
Árduo é seu caminho, a morte e o pecado lhe alimentam,
muitas vezes se perde na escuridão
e mais lhe valeria às vezes não ter sido criado.
Vislumbra eternamente, no entanto,
sobre sua missão e destino: a Luz, o Espírito.
E sentimos que é a ele, desamparado,
a quem ama o Senhor, especialmente.
Portanto, não é possível amar,
irmãos erráticos, ainda que na discórdia.
E nem condena nem odia,
senão o amor resignado
e amorosa paciência
nos aproximam para a meta sagrada.
Hermann Hesse, escritor e poeta alemão, poema traduzido por AjAraújo, em 20/8/2011.