Desconheço já,
O significado das palavras,
Guio-me apenas
Pelo sentimento com que as paro,
Como uma mãe protectora
Que controla as crias pelo faro…
Completamente envolto pela cegueira,
Deste mundo sem sentido,
Ando de cadeira em cadeira
Cuidadosamente escondido,
Entre as trevas da minha própria imaginação,
Que me leva e que me traz,
Montado nos rasgos de loucura
Onde a minha alma se satisfaz…
Satisfaz os meus desejos,
E alimenta os meus medos
Fugindo como uma sombra
Por entre os meus desatentos dedos…
Sendo fonte dos meus medos,
Sendo lar dos meus prazeres,
Espero de ti muito mais
Do que espero de todos eles…
Sinto as palavras morrer
Sinto o prazer a desfalecer,
Neste turbilhão de emoções
E na pressa de querer viver,
Dando sentido ao absurdo,
Sentindo na pele o papel,
De existir nesta perpétua
E intermitente vontade de ser,
Que me consome como se eu fosse
Uma colher,
Dum doce e suave mel…
E pudesse eu tê-lo sido,
Mero fruto de um desejo,
Ou obra nascida do prazer,
Que apesar de desconhecido
Insiste em se fazer sentir,
Insiste em me fazer viver…
Nos rasgos da loucura
Em que construo e desconstruo todo o meu ser…
Nesses rasgos de loucura
Brota a minha identidade,
Num misto de alucinação e verdade,
Sempre à espera do passar do tempo
Numa montanha russa imparável,
Feita de dor e saudade,
Onde o tempo se perde
Numa procura incessável
Pela luz tão desejada,
Nesta escuridão provocada
Pela cegueira incurável
Que oculta o mundo da vida,
E que da vida oculta o limiar da realidade…
É a realidade tornada jogo,
Um repetitivo jogo de esconde e foge,
Onde a vida se torna prisioneira do tempo,
Onde o tempo viaja com o vento…