POEMA BOBO
O vento assovia na via
Eu via a cria
sem dono
Que passava cheirada
De cola e amola
Sem sapato
ou roupa
Subindo suja
Óh Deus
ó
Morro descendo
no borogodó
da rua
Que ninguém recicla nem
Lixo comum
Na rua joga
Jogo azarado, chorume da cana, só cana, é cana e mais cana
É gás, é carro e carroça
Sirene socorro
É tropa subindo o
Morro
Morre
Eu, você e o bendito
Santo Expedito
Da cor-
rente
Que partiu e foi pra lá de Bagdá ou ali ou acolá
Fazer sei lá o que
Se aqui já dá pra ver
É tanta bagunça
É barulho
Orgulho
Bagulho
Entulho tudo aí, ou aqui, ou lá
Jogado as traças
E trapaças
E nem aí
Tô, num tô, eu tava
Mas é tanta CPI
Mas e dái?
Eu quero ovo
Eu ovo
Mexido, cozido, fritando nesse calor
Que importa?
Entupiram a aorta
E dão zero
Fome zero
Coca zero
Zero a zero
Empatando minha vida
Cutucando a ferida
Vida minha vida
Cadê a porta?
To de saída!
Passa noite
Passa dia
Passa a folha que eu lia
E só desgraça
Mas que graça
Tudo de graça
Eu apago
Eu pago, economizo
Finjo ter juízo
E culpo a cachaça
Mas é mesmo
Uma desgraça
É um pregando ali na praça
E outro dando empréstimo
Dô, num dô,
to dando
E a pomba sai voando
Sem migalha
E eu aqui
Que nem navalha
Cortando
A rua
Sem faixa
Sem passarela
É tudo mesmo uma cela
Essa coisa
Esse transito
Tanta gente
Pra cima
Pra baixo
Pra cima
Pra baixo
Pra cima
Pra baixo
Dizendo sim
Eu digo não
Mas e daí?
Eu sou anão
E o orçamento é chato
Coça, coça, coça
Esfola ter saco
Nesta birosca
De pátria
Sem pai, nem mãe
Ai minha mãe
Ai meu pai
Ai leishmaniose
“- Um Bauru sem úlcera por favor!”
Ai, ai, ai
Não me larga esse “uai”
Sou do interior
Mas que horror
A Capital
Uma loucura
O Capital
De giro, sem giro
Zonzo ou alienado
Em trinta e seis vezes
Sem entrada!
Hahaha... nem saída!
Mas que dor de barriga
Melhor eu ir
O circular já vai partir
A circular não passou
E o Zé ninguém
Cagando de rir
Mesmo sem nenhum vintém
Fica aqui
E tudo passa.
(Barbosa Junior)