Sou uma prostituta
preciso levar chumbo
cada cliente que eu arrumo
cumpre o papel de triste penitência
a que eu me acostumo
Sou uma prostituta
preciso levar manta
curtir no álcool de cada dia
o couro ou verniz de nunca ser santa
Sou uma prostituta
não sou santa, mas também não sou demônio
sou o anjo ou flor do obscuro
sentimento de que o momento
não tem futuro
Sou uma prostituta
preciso levar tinta
enfiar em mim a mancha
jaça ou mácula infinita
de uma mulher que nunca se cansa
Sou uma prostituta
preciso levar multa
pagar pelos erros dos outros
admitir os absurdos escrotos
de uma sociedade sem inocência nem culpa
Sou uma prostituta
minha carreira é longa e é curta
minha tristeza é bem paga e absoluta
minha vida é sem narrativa e é uma saga
que conta a história de algo que não é nada
Sou uma prostituta
eu poderia ser sua irmã, ou mãe
de alguém ou de todos os náufragos
ancorados à existência dos sôfregos
mas sou só alguém que não existe
porque sou só alguém que é triste
Sou prostituta
preciso levar ferro
viver o automartírio de cada dia
e toda a revolta que encerro
se cala porque o mundo é covardia
Úmero Card'Osso