Ela não sabe da missa um terço,
Nem imagina o estrago
Quando me recusa um beijo
Ela não sabe
O tamanho do meu desejo
Ela não sabe nada do meu amor.
Ela não vê meu vulto nas madrugadas
Escalando estrelas, surfando nos ventos,
Arranhando as paredes com unhas de prata
E beijando o chão onde ela pisa.
Ela não vê as minhas lágrimas noturnas
Escorrendo pelo ladrilho do quarto,
Pérolas solitárias engolidas pela noite.
Ela não percebe os meus volteios
A minha palavra doida
O meu gesto bobo
Meu riso triste
Ela não escuta o som do meu gemido
Navegando nos lençóis da cama
Nem percebe o tremor dos meus pés
Solicitando carícias atropeladas.
Do meu corpo aquecido um vampiro se solta,
Manada de tigres avançam nos corredores,
Um tropel de cascos atropela o leito
E ela permanece quieta, no seu casulo de ferro.
De que adianta o som da flauta?
De que serve a madrugada sem a magia de um orgasmo?
De que serve o meu poema
Se ela não sabe.