Sem o atropelo das obras que cansam o centro da vila, saio de casa noutra onda, e com um destino diferente, que se faz circulando à sua volta. Sigo na rota das rotundas, que hoje em dia qualquer localidade, por mais pequena que seja e sem motivo aparente, tanto ambiciona ter. Não ela, talvez, mas quem orienta seus desígnios. Passo à porta do tribunal e dos sanitários públicos, em frente a um jardim e ao lar da Santa Casa da Misericórdia, onde existe uma capelinha de permeio, e lá vou eu, com destino ao que me propus: caminhar, caminhando. Chego à primeira rotunda onde mudo de direcção, virando à esquerda. Se seguisse em frente talvez fosse dar a Alvaiázere, mas ainda demorava muito, nem sei se o conseguiria. Assim detenho-me nesta volta, envolvente, ao centro da vila de Ansião, que muitos escolhem para tentar desentorpecer suas pernas e fazer diminuir várias gramas ao seu peso, e à sua robustez, fora do comum. Lá sigo num piso acessível, plano, onde os passeios estão bem estruturados. Em alguns pontos as silvas vão fazendo germinar seus tentáculos e tal acontece com a rapidez de um tempo para o outro, mas eu limito-me a observar, muito de soslaio, lá indo no encalço da próxima rotunda, onde se avistará um fornecedor de Leitão Assado. Não me posso distrair daquilo que me leva a passar por ali, a caminhada. O sol tem estado abrasador e eu esqueci de trazer protecção, do rosto começam a surgir as primeiras gotas de suor, escorrendo num percurso descendente, que me traz, de vez em quando, alguma comichão à face, passo nela com os dedos das mãos. Surge a rotunda que antecede a próxima, e continuo, no passo idealizado para esta contenda, numa ligeira curvatura à esquerda, com uma leve descida, que aligeira um pouco a exaustão do percurso escolhido. Algumas terras amanhadas se espreitam à nossa esquerda, perante o mato que cresce do lado contrário, onde existem árvores de maior porte. Finalmente chego à última rotunda, daquela opção para caminhada, contornando-a e assumo o sentido contrário, ou seja de volta, no lado oposto àquele em caminhava. E, assim, vou andando, repassando pelas rotundas, e chegando aquela em que iniciei este calcorrear circundante à vila, mas decido seguir em frente. Chego ao Intermarché, depois de percorrer cerca de quatrocentos metros, após a rotunda que me poderia ter levado até Alvaiázere, passando pelo Pinhal. Sim aqui também existem esses grandes postos de venda, que vão fazendo com que comece a rarear o tão apetecível e delicioso comércio tradicional. Olho-o, à minha esquerda, passando uma mirada pelo seu parque de estacionamento e escolho a primeira passagem de peões que me possibilite virar à direita, em frente ao local onde se faz o mercado de todos os sábados. Ando mais uma centena de metros e finalizo mais uma caminhada, regressando a casa. Entro, vou até à casa de banho, olho-me ao espelho e verifico que diminui, pelo menos, uma grama. Valeu a pena!...
António MR Martins
António MR Martins
Tem 12 livros editados. O último título "Juízos na noite", colecção Entre Versos, coordenada por Maria Antonieta Oliveira, In-Finita, 2019.
Membro do GPA-Grupo Poético de Aveiro
Sócio n.º 1227 da APE - Associação Portugues...