Nasci na primeira hora do dia
e fui chamada com nome de santa.
Por acaso, pelo dia, porque sim.
Eu, nada escolhi.
Cedo tornei-me mulher e mãe
De quem precisou de mim.
Alguns sonhos que tinha,
não os vivi.
Guardados ao pé da inocência,
foram perdendo a pujança e a força.
Endureceram,
ganharam crosta
e já cheiram a jornal velho,
bafiento,
mas não os perdi.
Na voragem da vida
aqueles a quem me dei
foram-se e deixaram-me aqui.
Casa vazia mas soalheira,
antigo o patamar por onde corria
atrás dos levíssimos flocos de pó,
Pó das estrelas
que eu, contente,
guardava só para mim.
Subo ainda a mesma escada
que vai dar ao patamar de madeira cheirosa
conservada pelo verniz.
Mais de mil vezes o fiz
ou a chorar ou a rir,
e se vou conseguir
alguém o dirá.
Não a mim
Que já não estarei cá.
Incipit...