Agosto!
Certa vez derramei,
me acredite,
poesia na areia!
E era belíssima,
a praia, claro!
Do poema,
sinceramente,
não me lembro!
Sei apenas,
que eram não mais,
que fragmentos,
de uma incerteza,
que sempre, sempre,
trouxe comigo!
Incertezas tontas,
sabe?
Estava viajando,
dentro de outra,
esta sem o "in"...
Mas não me dei conta!
Tenho alguma vontade,
não toda,
de voltar àquela praia!
Tento toda,
não alguma vontade,
de ler aquele poema!
Sim, de ler...
Não reler...
Fui tomado,
confesso,
de tão súbita inspiração!
Que quando terminei-o,
o mar,
impaciente feito muitos de nós,
já decidira apagá-lo!
E as ondas,
lentas,
qual inquietos ponteiros,
vinham e iam,
liam e,
como que guardando,
recolhiam meus versos para sempre!
Sei,
ou acho que sei,
ou quero acreditar que sei,
que,
voltando até lá,
nada encontrarei!
Senão a obra,
lenta e definitiva,
que a natureza constrói!
Mas,
convenhamos,
não voltaria para conteplar isso!
Sim,
quero [ou queria, não sei!],
voltar!
Queria [ou quero]
achar o poema!
Lê-lo com a mesma calma,
que aprendi,
nem sei como,
a ter nestes dias,
tão tristes e frios de agosto!
Talvez,
quem sabe,
conseguiria recolher ao menos,
o galho com o qual o escrevi!
E outra coisa,
qualquer outra,
poderia escrever!
Mas,
por ora,
tenho preguiça!
Ou covardia,
tanto faz!
Tenho medo,
isto é certo!
É como se aquela areia,
toda ela,
fosse uma só página!
Como se fosse possível,
apenas uma história!
Apenas uma!
Fixa, definitiva!
Não enxergar,
o velho poema,
não me diz,
nem me dá a certeza,
de que ele não existe!
Agora fico aqui,
parado...
Esperando!
As ondas,
a água,
as árvores!
Um sorriso traquina!
Tento recolher,
os pedaços,
do que fomos,
eu, o poema!
Eu, ela...
Nosso antigo futuro!
Não consigo!
Parecem-me,
covarde que sou,
pedaços demais!
Trabalho demais!
Mas eu queria,
queria tanto,
juntá-los mais uma vez!
Me dói tanto,
vê-los,
qual seus donos,
tão longe uns dos outros!
Tenho medo!
E saudades...
Não me importa,
que o tempo cure!
Quem disse,
afinal,
que quero ser curado?
Não me importa,
que novas histórias,
idiotas e imbecis,
sejam escritas!
Não as quero!
Não me fazem,
nem farão,
bem...
Quero a antiga,
da época,
em que burro,
certa vez escrevi na areia,
não mais querer...
Vivo a esperar!
E dói!
Se o tempo,
sempre ele,
imitar o mar...
E,
lenta e rapidamente,
apagar em mim tudo o que,
ela e eu escrevemos!
Ainda assim,
tenho certeza!
Terei vivido,
para viver aquela história!
Nenhuma outra!
Ilitch Kushkov
Indaiatuba, 03 de Agosto de 2.011!