Mate... mate estas notas de ouro
que enfeita-me lágrimas em olhar escuro.
Mate... mate estas notas de luto
estes tolos sentimentos, coração embalsamado.
Com voz de dor e lábios de triteza
enquanto estas imundas notas se decompõe
vai compondo uma canção com restos
de morte, de lágrimas, de murmúrios.
Nos dedos das mãos toque, toque, toque
estas pútrefas melodias sem começo, sem final
no meio de um vale de ossos, cante com voz rouca que rebata
nas caveiras, e eu pense que são elas que me cantam.
E me crie uma canção que encha o corpo de tremores
de arrepios e calafrios, de medos e mistérios
crie-me uma canção de notas decompostas, fétidas
que me embriague a morte do meu coração.
Assassine-me em cada soar desta música fúnebre
com tua doce voz. Então, ressucita-me quando compor
novamente cada escala batizada de pecados
enquanto meu corpo ainda estiver se decompondo.
Minh'alma criando-se nos teus dedos afiados de graciosidade
quero me estar na rouquidão deste enlace de notas perdidas
quero me fixar na morte destas notas enlouquecidas
quero me sentir no grave e no agudo destas notas bizarras.
No odor insuportável desta música, me esquecer, me ter
componha-a com teu coração, com teus sentimentos de doce ternura
mate suavemente enquanto tocá-la somente para mim
irei me desfazendo junto, caindo junto... irei me decompor junto.
No vale de ossos cante-a desesperadamente como se fosse o fim
cante-a com violência, estupre cada nota, leve-a a morte e ressucite
quero ouví-la eternamente. Cada corpo caído na penumbra
espiando pelas frestas, o cântico entoado da tua morte.
Toque mais e mais para mim... esta melodia venenosa
que nunca termina, que nunca descansa
está me entorpecendo com tuas notas de sangue
com tua dor fora de ritmo, ó, como estou saboreando o veneno.
Nunca pare... continue eternamente com a composição
pegue neste vale os restos, as mortes, as lágrimas, as ruínas
e faça a música nesta medíocre decomposição
resgate-me em cada nota, em cada som desta podridão.
Acho que estou apaixonada pela minha tristeza....