Beleza Escoada
Já não sabes o que é o mundo nem quem és
E dás por ti a lamber o chão que te foge dos pés
Enquanto tu te escondes e rodeias
Vais morrendo nessa vida ao som das sereias
Quando te olhas ao espelho nada vês
Senão o reflexo num barco rachado junto ao convés
Quando te valorizas é aí que todos te vendem
Por preço baixo ou de graça, te pisam e te prendem
Naquilo que tu não és ou talvez não queres ser
Só mais um dia de respirar por obrigação
Talvez pare de livre vontade o teu coração
Quem és tu e com quem falas? Enquanto tombas?
Não vês que essa pessoa é as tuas sombras
No meio de fossas da vida e valas
Vais mastigando tudo o que há nas sobras
Um sorriso quando triste e sem alegria
É como a vida vestida de trapos e ironia
Escreves tu nesse teu mundo que arrefece
Porque quando se é ninguém, alguém se esquece
Como defines a tua beleza?
Num espelho sem reflexo e tristeza
Vês o sol quando acorda a lua
Rasgas, e nunca mais acaba esta vida que não é tua
Porque és preso da tua liberdade?
Escondido num beco de uma mentirosa verdade
Que horas são quando dás por ti?
Esse relógio nunca funcionou e acordo para não dormir
Porque sonhar dói quando a realidade
Te chama para mais uma frustração da tua vaidade
O mundo não chega para te esconderes do nada
Quando o nada te chama vives numa beleza escoada.