Uma questão de fé.
Lara estava com seus trinta anos, uma vivência de vida simpática e nada lhe faltavam ali, era tudo feito nos limites da sua capacidade de abraçar a vida generosamente. Os seus sonhos esses ela nem os havia sonhado, apenas vivia uma vida de ilusão. Aquela ilusão que mundo lhe pertencia e era dona dele, com isso tudo nada atingia.
Mãe de dois filhos entre as idades de oito e quatro anos, ela achava que era feliz naquele seu mundo de faz de conta, que estava na mais perfeita harmonia. Ela gostava pouco de estar em locais com muita gente, dizia ser fobia, por isso ela até justificava ficar na porta de saída de uma Igreja, assim era mais fácil sair de fininho, sem ninguém dar por isso.
Ficava a fumar, distraída e achando que era uma grande maçada, ora eram casamentos, comunhões, ora batizados ou até as festas, que por vários motivos tinha que estar ali. Ela por vezes se interrogava, afinal morremos e apodrecemos e pronto, acabou a nossa vinda aqui. Ela foi educada na religião católica sim, mas eles foram sempre muito abertos com ela, ela decidiu que não queria mais e pronto. Afinal ela pensava era mais conversa para apanhar dinheiro as pessoas e meter medo com o inferno.
A vida estava correndo sobre rodas, casa comprada com empréstimo do banco, bons carros, toda equipada com o que tem de melhor, nada faltava às meninas e claro o marido bem sucedido na vida. Ela trabalhava em imobiliária e ele era gestor de uma empresa do qual ganhava relativamente bem, até aqui tudo normal, nem sombras de tempestades em sua vida era só céu e nada mais.
Era uma família unida quando saiam, jamais deixavam os filhos com outros, nada lhe faltava, ela pouco cozinhava em casa, sempre em de restaurantes e convívios entre amigos. Como eles tinham tantos amigos.
Seus filhos, O Miguel e a Isabel, estavam sempre nessas andanças, tudo que queriam era-lhes dado para superar no fundo o tempo que deveriam estar em família. A medida que cresciam eles, aprenderam a exigir mais e mais.
Já estava entrando nos 40 anos e tudo parecia correr na mais perfeita harmonia, mas algo aconteceu, ela teve um sonho estranho naquela noite, um sonho que a incomodou demais, ela se viu a perder tudo, viu também enterrar pessoas, acordou sufocada, transpirada e pensou consigo, ainda bem que não passou de um sonho.
Vai trabalhar, tudo parecia normal, quis não pensar no sonho, mas pensou, tanto que nem viu um sinal verde para continuar seu caminho. Deixou o carro ir abaixo, assustou-se, naquele momento ela entrou em pânico, pensado se fosse verdade o que ela fazia a sua vida.
Chega ao seu emprego, vê uma agitação invulgar de gentes estranhas, quis ir para seu PC, mas foi barrada por agentes especiais, foi levada para outra sala, mandaram ela se sentar e começaram a interrogar todas as suas vendas e como elas foram feitas.
A fraude era tão grande que a empresa fechou nada sobrou alias nem para pagar simples ordenados, foi feito um arresto pela Direção Geral de Tesouros e Finanças. Como uma desgraça nunca vem sozinha, logo seu marido também tem más novidades, sua empresa fecha por os bancos cortarem os créditos a mesma e falta de pagamentos de clientes, por causa da recessão da Europa que atinge todos.
Lara entra em depressão profunda, sem poder pagar casa, carros, colégio e as simples despesas de casa, pois até o que tinham os bancos penhoraram, ela não tem outra saída se suicidar, mas sempre se lembrava dos filhos que entre aquele tumulto, eles se revoltaram e entraram em drogas e em vida sem regra, Aquela falsa união, desabou como um castelo de cartas, cada um por si e acusações era o prato do dia. Até que chegou o dia da saída da casa, sem ter para onde ir, sem ter mais amigos, nem mesmo família foram morar num barraco abandonado sem quaisquer condições. A degradação será demais, para ajudar a doença do marido, estava em fase terminal de um câncer nos ossos de caminhava velozmente para a sua morte.
Acho que no fundo ele pediu isso mesmo estava sem coragem de enfrentar o mundo e a sua vergonha, melhor era ele morrer. Lara estava sem saída, a mulher que estava sempre bem chique bem vestida, estava num trapo, ninguém a reconhecia, ninguém mesmo as melhores roupas e jóias era o que ajudava a alimentar, aquelas que ela conseguiu salvar do filho. Venderam eletrodomésticos, moveis, roupas, louças e tudo que ainda conseguiram salvar das penhoras, aquele magro dinheiro deu para alguns magros meses, parece coisa do destino, até seu marido José vir a falecer.
Nada parecia tocar aquela alma dura fria, cheia de desamor, ela apenas se lamentava, ficava por ai. Logo ela perde seu filho, ele simplesmente tomou uma overdose do maldito Crak, no fundo ela até ficou aliviada, apenas restava a Isabel. Isabel caiu bem no fundo, do poço, entre bebidas alcoólicas e no mercado do sexo, era apenas mais uma na vida, logo na entrada de sua cidade e no lugar mais negro e conhecido.
Sozinha, sem saber para onde caminhar, sem saber onde começar ela decidiu que era a hora de partir também, nada a prendia aqui.
Tomou seu banho, vestiu as melhores roupas que ela tinha guardado, para um momento especial, estavam tão largas, tão soltas, se olhou no espelho e chorou ao ver os seus olhos perderam aquele brilho, até a cor, seu rosto, apenas tem marcas pesadas da vida, marcando a tristeza e o sofrimento. Foi procurar aqueles sapatos de salto alto, que tanto gostava de usar, era aqueles sapatos que ela queria, ela pensava pelo menos morro com dignidade
Entrou na cozinha, cozinhou o que mais gostava, pegou naquele veneno de ratos, misturou bastante na comida, comeu lentamente, mastigando tudo com medo de perder um bocadinho, teve dores no estomago, mas agüentou.
Foi para seu quarto, se deita na sua cama, nunca havia rezado, lembrou-se da oração que rezava em menino com a sua avò, estranho, que saudades dela ela sentiu, lentamente ela se deixa adormecer, ainda sente aqueles dores finas, mas contém sua dor. Suas pálpebras começam a pesar, seu coração começa a bater apressadamente, o peito dói, sua boca esta seca, precisa de beber, quer se levantar, mas não consegue, ela estava em agonia, viu por momentos sombras a sua volta, escutava vozes horríveis, de onde viria aquilo tudo.
Estava tão cansada, queria ir embora, mas seu corpo parecia estar relutante em partir, as dores aumentavam, ela voltou a rezar, pensou será que resulta? Ora ela pensava assim não tenho nada a perder, ela viu de repente, uma luz intensa, forte e quente, dela escutava uma musica linda, com vozes angelicais. Ela pensou já morri e afinal existe mesmo o céu, algo a tocou, uma mão quente, forte e poderosa. Olhou-o, ela viu um rosto lindo, cheio de luz, seus cabelos compridos, sua pele escura e seus olhos negros, sua túnica branca e um largo sorriso.
Ela nada falou, apenas olhava para ele, pareciam que conversavam telepaticamente, perguntou seu nome, como se ela não o soubesse. Ela apenas respondeu, anda dá aqui um abraço que logo serão horas de eu partir, eles se abraçam, toda a sua alma parecia renascer, toda a sua magoa sumia, aquela dor desaparecia, ela sentia amada, feliz e compreendida como nunca foi. Ela chorou pedindo perdão a Jesus, ele a aquietou e apenas falou;
- Calma ainda há tempo, vivas para acabar tua missão.
De repente ela escuta a sirene, algo a abana, que desconfortável, abre seus olhos e vê a sua menina chorando, pedindo perdão.
Ela apenas, pega nas mãos de sua filha e diz;
- Calma ainda há tempo para nós, confia no poder divino, ainda vamos ser muito felizes.
No meio dessas palavras, ela fica confusa ela nunca foi assim e nem falou assim e pensou deve ser do veneno afetou a sua cabeça.
Velozmente a ambulância seguia para o hospital mais próximo, logo teria uma novo vitima e uma nova historia para contar.
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