Quero ver no mundo o luar,
sem ele não há cantigas de amor
que corpos assobiam na cama ao deitar,
na rua fica todo o perfume, todo o sabor.
Fica o silêncio dos amantes,
abraçados, amados,
em noites, instantes quentes,
esquecidos, abandonados.
Na noite calada
oiço velhos cantar,
cantigas de palavra inacabada,
os sábios do costume, na cidade vaguear.
Sabem de vidas
como quem sabe falar,
não procuram saídas,
vivem sem portas onde entrar.
Mostra-me onde estás,
sem falar, sem dizer nada,
mostra-me onde estás,
olhando lá fora, toda essa estrada.
Chamo por ti em ruas sem fim,
escuras, sem luz nem lua,
nada aqui me seduz, perco-me em mim,
sozinho neste caminho, numa saudade tua.
Lá dizia o velho
que se senta no passeio,
que não sou quem se vê ao espelho,
sou apenas todo o resto, de tudo alheio.
Mostra-me onde estás,
assim tudo é pior,
mostra-me onde estás,
neste instante transparente, sou nada, meu amor.