não tirem o vento às gaivotas - sampaio rego sou eu
neste agosto não estou crente. rezarei uma avé maria - bem sei que a fé dos calções curtos. dos sapatos de couro esburacados pela força dos chutos na bola. do suor das correrias. do tempo que não era tempo. do descanso sentado no beiral de um qualquer passeio voltado para uma rua nua de carros. de caricas. de raparigas com cabelo entrançado e meia branca até ao joelho. tudo terminou – entretanto cresci. e já não vejo putos como eu. com fé. com esperança. e até as árvores foram cortadas. medos dos furacões dizem os donos da cidade - e nós. e nós. eu e os amigos dos abraços. uns já mortos. outros vivem a morrer e eu assisto a tudo. parado. peço a deus que tenha piedade de mim - depois. lembro-me que deixei de acreditar em deus. e já nem pai tenho para pedir protecção. é a morte antecipada de uma geração que nunca soube dizer basta - somos assim. de palavra em palavra. de lágrima em lágrima deixamos as semanas correr. como se fossem anos. e afinal foi só uma migalha de tempo. que um passarinho levou para alimentar um ninho repleto de asas. repleto de sonhos –