Os meus olhos, extenuados desse meu viver,
estão fartos da inexorabilidade dessa roca doida
que trama, no giro maluco de um eixo sem tempo,
o fio das gerações que me antecederam...
Tento exalar o aperto de uma dor sem nome,
dor que soluça, sem saída, no fundo do peito;
dor do corte do modo de ser de uma praça
onde as coisas, incognoscentes de si mesmas,
oferecem-se, plenas de seu tempo, aos meus sentidos.
São formas de uma dureza permanente
porém, frágil de tanta humanidade...
Sua essência, negada ao imediatismo dos passantes,
constrói-se dos sentimentos estéticos que latejam
em todos os inconscientes de alguma época —,
o visgo da teia dos homens de todos os Agoras!
Porém, incompreendida, incompreensível,
a minha cabeça se lança num vôo inútil:
e então, o meu olhar pondera que a alguns
foi dada pelo Destino a posse dos bens;
herdade que usufruem ao gume do egoísmo,
no escoar do enredo fútil de suas vidas,
na mesquinharia insensível à mão do tempo!
Demoro-me a olhar a praça vazia e penso:
a mim — pobre de mim, que dor!—
foi me dada essa cabeça... essa maldita cabeça
que não aprendeu a usar o saber acumulado
para também fruir, sossegada, inconsequente,
esse sentido vazio de ter, tão duramente estatelado
aos meus sentidos pelas obras das mãos de outras eras!
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Da minha coletânea "Cavalos da Noite", ilustrada por Paula Baggio