["Mais la vie sépare ceux qui s'aiment,
Tout doucement, sans faire de bruit
Et la mer efface sur le sable
Les pas des amants désunis"]
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Desta vez, mágoa nos cortou a voz:
extenuados, desembarcamos do sonho
como se voltássemos de uma
longa e maravilhosa viagem!
Atônitos, sentidos ainda atordoados,
nem sequer colocamos as malas
no chão para o último abraço;
apenas um leve beijo de despedida —,
um nada, perto de tudo que
juntos vivemos nesses meses!
Demos as costas um para o outro,
e, letárgicos, apenas caminhamos
ainda sem saber como serão os dias,
sem a presença mágica de um no outro!
E sem conseguir olhar para trás,
caminhamos lentamente pelo cais.
O peito aperta, sufoca, mas o que fazer?!
Vamos em frente, apenas.
Porém, os sentimentos que experimentamos,
não podem mais ser recolhidos,
Passaram a fazer parte de nossa essência.
Assim, forçosamente continuaremos,
ainda por um bom tempo,
a carregar fragmentos um do outro.
Mas agora, enquanto caminhamos,
de real, e por um breve instante,
só o movimento dos barcos,
como disse o poeta, o eterno movimento!
E nós, na distância desse cais infinito,
nos apartando, nossas imagens sumindo, sumindo...
Até nos perdermos por entre
as gentes e as coisas da vida outra vez.
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[Para Ana Lucia, em algum dia de 1997]
*** Poema da minha coletânea "Cavalos da Noite", ilustrada por Paula Baggio