prego um prego na parede
na sempre secreta esperança
de mudar o mundo
quando as coisas do mundo não mudam
assim
com um mero martelo a pregar
um prego
um prego na parede
da sala de estar
mas um prego é um prego
e este é um prego
para suspender o tempo
e suster o olhar
naqueles instantes precisos
e preciosos que a memória
ela própria
soube guardar
e a casa surge como um templo
um refúgio
porque lá fora
dizes
nada muda
no entanto
a janela ali tão perto
olho para o prego
pedaço de metal
no meio do branco
e penduro a obra “o jovem poeta”
de edgardo xavier
regresso àqueles olhos
ao cabelo rebelde
à barba por fazer
e digo
como se o pintor
ali ao lado estivesse
estou ali
dentro daquela moldura
e sequer me conhecia
e sem pensar sobre o assunto prego
sinto
que aquele prego mudou
o meu mundo
abro a janela
uma ave com seu canto me visita
Xavier Zarco