com um sorriso amarelo acedi a estender a mão e logo rodopiei á velocidade da culpa.
não devia dançar com aquele coração de chumbo e pés de tormento, mas era visível demais o canto parado da sala. já tinha reparado no seu jeito sem jeito, de olhar desconcertado numa troca de pernas sem nome, seria jorge, jorge of de jungle, mais jungle que jorge, assim entre o requebro e as tábuas do soalho. e eu a contar com a quietude e o esquecimento do meu nome no barulho que me roia o tempo, mas bateu a hora como uma pedra no joelho.
saio do pasmo para a degradação até ao crime passional de um tango à la mesura dum raio que me parta.
e ele a dançar a valsa ao compasso de um barco entre rochedos enquanto eu dou de parto o tango torto da vida. estrada interminável sem bermas de ritmo na garganta.voz surda que nos denuncia náufrago em chamas e vestido de vela a rasgar a simplicidade de um cansaço.
meu deus, como ele se achava na minha culpa de me pisar quando lhe tocava na tíbia do troca o passo e se glorificava em pavão da noite.
talvez na próxima dança do meu descabelo a dor me suba dos joanetes à revelação do corpo e me convença que o engano é de carne e osso.
tentei que sorrisse a cada nova patada que lhe não dava, e que ele devolvia de boca aberta a cada gole de caminho, tão perto da corda no pescoço.
uma delícia rodopiar na consequência da sua auto estimulação. contorcionista iluminado quase a pedir ser expulso da pista, ele o meu herói, da tangalsa louca dos anos que perdi.
não encontro a legalidade do tempo desmoronado nos meus ossos que ainda dançam sob a saia da minha recusa, autómato desligado das coisas certas, como um coração em banho maria e um buraco irracional na orquestra que não pára dentro da cabeça.
foi sempre e só mais uma que é bom para a tosse e morre-se em tédio e sem motivo por toda a eternidade.
rápido como um foguete, para não ter tempo de pensar, para não haver tempo de doer, nas entorses de cada esquina. dar a volta à mesa quinze é uma ideia fabulosa, depois em cima, por baixo até as pernas quebrarem de riso, a sapatear nas coxas de todas as mulas da cidade por dentro do ficar-se. gargalhada fatal a esmigalhar as retinas nos vidros.
janela sem vistas no cinzeiro dos dias cinza, este vício de viver a tortidade.