Viu-se num pueril espetáculo vil,
Fisgado num traiçoeiro anzol da pescaria
Viu-se sem assunto. Fora de ponto
Viu-se como expurgo. Demiurgo da criação
Daquele cinzento céu taciturno
Viu-se um paupérrimo Netuno
A levantar ondas de boataria
Para a maioria se afogar de mar
Viu-se sem-terra, sem lar
Frente a frente à sua miséria fria
Viu-se sem rumo. Fora de prumo
Viu-se sem motivos para a redenção
Daquele ambiente soturno
Viu-se reles gatuno
A lançar ao saco as belas pratarias
De que tanto odiaria afanar
Viu-se de tal e qual jeito
Que nunca mais poderia se olhar
Enquanto vivesse essa canalhice
Viu-se em contraste à própria meninice
De tantos sonhos e encantos
De homem que se iria tornar
Agora, mesmo que não soubesse
Sabia: precisaria mudar
A. Colares
BH - 17.07.2011
Augusto Alfeu Colares