Trazes no peito um poema
como divisa, como emblema,
trazes também uma flor
porque rima com a palavra amor,
trazes contigo as saudades
próprias de todas as idades,
trazes também as ausências
como chagas, como experiências,
trazes um nome contigo
como um fardo ou como um amigo,
trazes esse corpo curvado
porque a alma tem de estar nalgum lado,
trazes o ser e o sentir
pensando que o melhor ainda há-de vir,
trazes os bolsos cheios
de objectos inúteis e feios,
trazes a cabeça repleta de mar
porque só assim tu sabes rimar,
trazes na pele sentimentos
e recordações de momentos,
trazes uma dose de timidez
que se revela na tua mudez,
trazes as tuas razões,
verdades e complicações,
trazes impressa uma cidade
que te conhece de verdade,
trazes livros em bancos de jardim
e perfumes suaves de jasmim,
trazes casas vazias
de pensamentos e de dias,
trazes telhados das estreitas ruas
onde nascem aves que não são tuas,
trazes largas avenidas novas
que renovam as tuas provas,
trazes passeios ronceiros
calcados por martelos certeiros,
trazes poetas agarrados
por versos demorados,
trazes também prosadores
banhados nas suas dores,
trazes um nevoeiro fatalista
e alguns tiques de fadista,
trazes fados, cantigas
em becos e vielas antigas,
trazes janelas com segredos
fechadas sobre os seus enredos,
trazes uma curva de rio
com ninfas tremendo de frio,
trazes um povo errante
com sonhos de navegante,
Continua...
NR