Hoje, revirando meu velho baú,
Encontrei um álbum mui antigo
Encadernado em um veludo azul
Pela mão do Tempo amarelecido.
Fui percorrendo-o com meus olhos
E achei de ti uma pequena fotografia.
Tão linda ela estava que... Choro...
Lembrando o tempo em que ela sorria.
Ah, querida Sofhia,
A vida passa numa velocidade louca!
Imortal na fotografia, eras uma criança
Com os seios apontando, virando moça
Formosa que ainda trago na lembrança!
Agora te vejo, ali, sentada perto da janela,
Rechonchuda, sem pinturas e descabelada;
Resmungando o destino da atriz da novela,
Lambendo, dos dedos, os restos de queijo
Com goiabada.
Fico na minha escrivaninha escrevendo
Essas linhas que aqui, por hora, escrevo.
No instinto animal, nota que eu a percebo
E pergunta-me o que estou fazendo.
Respondo-lhe, sem nenhum problema,
Que estou lhe homenageando num poema.
Ela, entretida, catatônica, em frente à TV,
Nem percebe o que acabei de lhe dizer.
Sorrio em voz alta... Bruscamente, se vira.
Percebe e indaga o porquê da minha risada.
Respondo: “Pode continuar, minha Sofhia,
Assistindo a tua novela. Não é nada."
Aprofundando em meus pensamentos,
Acabo ficando muito, muito entristecido.
Antes ela a dona dos meus sentimentos,
Agora, ali, parece-me um empecilho...
Fico muito entristecido com minha mulher.
Antes a mais perfeita, a mulher mais formosa.
Hoje horrorosa e redonda da cabeça aos pés.
O pior de tudo ainda se está para contar:
Minha amada, antes formosa e perfumada,
Exalando essências dos lírios e das fadas
Agora é sedentária e tem rachado o calcanhar.
Também o culpado fui eu.
E estou aqui e agora...
Pensando:
Não escutei aquele amigo meu,
O Antonio Braga, que me disse:
Antes de se casar, amigo triste,
Conheça primeiro sua sogra.
É foda!
Gyl Ferrys