Estava acordado fazia algumas horas, mas demorou a sair da cama. Sentia o peso das lembranças como uma força irresistível que o mantinha preso ao colchão. Valendo-se de toda a sua vontade ele levantou. Alheio ao caos em que se encontrava o quarto dirigiu-se a cozinha para fazer o café amargo seu velho companheiro de todas as manhãs.
Ela havia partido a mais de oito anos, a ausência só servia para reforçar a sua presença em cada cômodo da casa. Mesmo porque desde que ela se fora nada mudara por ali. Eram os quadros que ela comprou; com o sofá que ela escolheu; sobre o tapete que ela sonhou; em uma casa que ela decorou... A casa dela, mas sem ela.
Volta e meia vinha o desejo de procurá-la, mas ele o reprimia, temia a reação dela em um encontro. Não saberia o que fazer caso o rejeitasse ou simplesmente o ignorasse, não suportaria um olhar indiferente. Não dela.
A bem da verdade temia mais ainda ela aceita-lo de volta. Esse sim era um pensamento aterrador, pois ele era o mesmo homem de anos atrás, nada mudara. Eram os mesmo defeitos, as mesmas manias e fraquezas. O mesmo individuo que a perdera uma vez estaria fadado a reviver o caminho dos velhos erros atingindo o mesmo fim. O fim.
Esse raciocínio o deixava deprimido. Resolveu voltar para cama e se deixar esmagar pelo peso das lembranças. Elas nunca o abandonariam, nem o magoariam além do que poderia suportar. Era sua companhia e seu refugio. A única coisa que ela deixou para trás que não poderia ser tomada dele. Eram suas apenas. Eram suas e seguras.
Deitou-se no colchão e deixou que o peso da tristeza voltasse a confortá-lo. Pousou a cabeça em recordações, cobriu-se de saudades e voltou a dormir tranqüilo.