Aqui eu selo, nestas últimas palavras que me vem deste meu antigo eu que está se acabando, desaparecendo... Este meu eu de que todos souberam, em que todos puderam conhecer-lhe, entender ou meramente negar.
Uma nova fase começa... Essa neblina que veio, que acariciou, eu não sei como pôde chegar aqui, mas, agora... Ela faz parte de mim, somente de mim e só eu quero e posso entendê-la.
Então aqui eu selo este ser que agora me é desconhecido, que não me faz parte que és outra pessoa além de mim, mas não me separo eternamente desta história. Quem sabe algum dia eu volte a ter este estranho dentro de mim, novamente? Esta estranha sombra descolada, agora, de mim... Algum dia, talvez, eu quebre este selo e volte a ser somente solitário, triste e incompreendido.
Alguém aqui dentro de mim, aflito para ser descoberto. Mais solitário... Uma solidão de pensamentos, de coração. Com uma tristeza sem sentido, que despedaça, que machuca, que parece não ter fim, cheia de lágrimas afiadas. Com uma nova verdade, uma nova visão. Um desencontro consigo mesmo, uma parte estranha de si, sem um mundo que lhe caiba. Este novo ser que desabrachou dentro de mim, rasgou os antigos valores, sentimentos, emoções, pessoas. Tão sozinho, que não sente nem a si mesmo. Tão frio que não sabe de teu coração. Tão sombrio que tens medo de tua sombra. Tão triste que não cede a lágrimas.
Por mais que doa despedir-me desta minha parte, tenho que fazê-lo. Enfim, estou selando-me. Separando-me deste meu eu e indo a procura de um novo encontro comigo, mesmo que eu encontre uma alma quebrada, irreparável... Ainda assim quero tê-la. Confortá-la em mim, além do medo que brota de seu (meu) olhar. Eu quero simplesmente entender, selando-me de mim mesmo.
Conhecer-me de verdade, aceitar o que sou. Mesmo caminhando só nestes pesamentos que estão fragmentando-me, estou aqui para me redescobrir. Finalmente quero ser-me, selando este mancebo que várias horas questionei-o de pertencer a mim, por horas de lágrimas, um reflexo de espelho que coincidia com meus medos, segredos, dores. Uma imagem que negava a mim mesmo. Palavras que me designavam, mas que mentiam sobre mim?! Que falavam sobre meus sentimentos e nem mesmo eu percebia esta pessoa tentando ressurgir ali.
Agora, simplesmente, eis de me reconhecer e falar-me verdadeiramente. Deixar este nascimento acontecer, mesmo sendo o desprezo dos demais. Finalmente estou selando-me... Um rapaz que fica entre as sombras da tua falsa existência e mediocridade. Um novo espaço que se preenche com a minha própria aceitação.
Acho que estou apaixonada pela minha tristeza....