Confesso que às vezes também consumo as letras que escrevo. Lambo os sentimentos e devoro sensações. Confesso que às vezes recordo-me nas palavras e sinto as dores que deixo a enrugar a folha de papel. Quando o poema voa, sinto a brisa fresca que o leva, tão longe quanto o sonho… quando o poema se afoga os meus olhos enchem-se de maresia e morrem de saudade das madrugadas inquietas. A palavra rio, oiço-a constantemente a correr dentro de mim.
Confesso, que existem lágrimas que se ausentam nas reticências, sons que não se ouvem quando chego ao ponto e cheiros que pairam em cada palavra mais doce ou embriagada. Às vezes coro quando as palavras gemem e fazem amor contigo… o sangue corre desenfreado nas veias quando escrevo os teus lábios nos meus, as tuas mãos no meu corpo. Confesso que por vezes até te sinto dentro de mim… é aí que surge a palavra sol e rompo entre ventos e marés com frases quentes e suadas a fazer transpirar o papel. É sempre triste quando chego ao fim, o deixar dos sentimentos, as frases que ficam, o chorar das palavras.
Despeço-me com as mãos húmidas, um aperto no peito e um brilho no olhar. Por vezes entrego-as aos olhos de quem lê, outras deixo-as a gritar esquecidas em gavetas atoladas de papéis e palavras velhas e gastas, à espera de um impulso meu.