[O meu barro é cinza claro,
mas torna-se prata quando a lua
clareia os cerrados de Minas]
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De tanto não ir até a fonte,
o pote voltou a ter o puro
gosto do barro de que é feito...
E criou bolor, e secou, e rachou-se
em cacos, cortantes, é verdade,
mas apenas e tão-somente, cacos...
[E eu, de tanto não ir à fonte do prazer,
virei só esse barro cinza-claro, seco...
essa pulsante latência de desejo!]
Centáureas alimárias que trotam na noite...
E passam... e passam... e passam...
Até o amanhecer, quando corpo insone
talvez encontre a paz no cansaço...
Na avenida calada, as suas passadas
aguçam o absurdo que é a existência,
desacorrentam as lúbricas sombras
que povoam a noite mal dormida,
e reacendem os desejos ocultados!
De que altos vêm essas criaturas,
de que sendas da noite eles saem
a caminhar na escuridão da minha
Cidade Perfeita adormecida em silêncios?
[O Curral do Concelho, hoje uma visage
fantástica dos tempos coloniais,
há muito não existe mais...
lá eram recolhidos os cavalos errantes...
Eu — o curral que me cerca vige dentro de mim!]
[da minha coletânea "Cavalos da Noite" - ilustrada por Paula Baggio]