Causa-me graça e encantamento
Ver-te em devaneios, olhar longe,
Fitando o futuro e o firmamento
A procura de um novo horizonte.
Chega a me causar contentamento.
Mais que isso, uma certa alegria,
Quando o teu olhar te descortina
Perdida em pesadelos e pensamentos.
Estranhos são teus movimentos
Frios pedindo carinho e acalanto;
As trilhas tortuosas e teus tormentos
Poluindo tua avenida e o teu canto.
Parece que sente ódio pela vida
Que vive afundada em prantos
Perdida na mais longínqua ilha
Repleta de urtigas e acantos.
Que vive mergulhada em melancolia
Em mares de lágrimas ou oceanos...
Uma embarcação embalada pela ventania
A procura de um norte ou um recanto...
A espera de uma estrela como guia
Para se libertar das névoas e dúvidas
De mais uma noite silenciosa e comprida
Um tanto tenebrosa, triste e escura...
Deixe disso, mortal criatura!
Abaixe tuas armas e armaduras!
Dê e deixe se dar carinho e alento!
Que a nau singre os caminhos de vento
Desde que a brisa do amor adentre
Tuas entranhas, poros e virilha
Percorrendo tua vagina e teu ventre
Violando tua santidade satânica
Tua alma agigantada e mecânica
Teu espelho maior e teu prisma.
Liberte os caracóis dos teus cabelos!
Que eles caiam felizes em tuas omoplatas.
Olha, menina aborrecida e um tanto chata,
Na verdade acho que o que sente é medo.
Medo de fantasma-de-si-mesmo
De tudo que lhe é liquido ou espelho...
Sabia que o desamor machuca e maltrata?
Que o sol não toca onde se tem tapume?
Que amarga tem a vida quem destila azedume?
Que amar alguém derruba muros e muralhas?
Faça limpeza em tuas retinas
Abra as janelas e portas da tua casa.
Que o amor faça em ti acampamento e moradia
Para que brote uma rosa da esperança
Ao lado de tua cama no amanhecer
De cada dia.
Olhe aqui, menina aborrecida,
E um tanto sacana...
Troque tuas máscaras e fantasias
Deixe lilases acender aquela chama
Nem todo mundo que te agrada, te ama.
Nem toda mão que te sorrir é inimiga.
Gyl Ferrys