Por várias vezes folheava os meus cadernos como se de um livro se tratasse. Naquele momento era apenas um mero leitor que ambicionava tornar-se grande, com o que o próprio havia escrito. Imaginava o dia em que cada um dos meus simples cadernos se tornavam num livro de estante, não simples, mas sim complexo e originalmente meu. Sempre tive medo de sonhar porque tinha medo que a vida me traísse nas suas linhas e me deixasse esquecido no final de uma página, onde ninguém iria ler. Existem mais talentos neste mundo que pessoas. Existem menos oportunidades que talentos e consequentemente muitos são esquecidos. A vida ensinou-me a desejar e sonhar apenas enquanto durmo. Por várias vezes quis sonhar ser o escritor que as pessoas procuram. Que trás sorrisos. Que proporciona visitas ao céu de forma gratuita. Que espalha conhecimento e mais importante que tudo – que faz sonhar, sorrir e viver.
Por um dia na minha vida sonhei mais do que o sonho, lutei mais do que a luta, e escrevi numa bela prosa o momento que hoje relembro.
“Em tempos conheci, o que presentemente somente em pensamento reside. Aonde apelo em instantes em que a saudade briga, pela sua afirmação. Uma pessoa de tal maneira grandiosa que se tornou numa entidade outrora viva, que hoje me faz viver. De idade avançada e de conhecimento aguçado, insistia em comentar o meu trabalho de forma única. Era singular e excepcional o reconhecimento que lhe atribuía, como também era único o significado que este detinha na mesma. Mas tal belo ser, padecia de uma doença, denominada de cancro, uma designação demasiado escura para ser escrita numa folha branca e virgem. Revivo o seu desejo de querer ao som de minhas palavras. O seu desejo de poder prolongar as linhas da vida, com intuito de ficar presente nela e na companhia das palavras que escrevo. Relembro também como as minhas palavras a conduziam para um mundo que já havia vivido e que no presente, graças a mim testemunhava. O seu desejo materializou-se e a sua partida surgiu sem aviso. Desta mantenho presentes as palavras e o desejo que estas possam atingir um grande número de pessoas, como ocorreu na sua vida. Da sua morte guardo a força, porque ao ser relembrada nunca estará realmente morta, apenas tirou férias da vida”.
O sonho nasceu em suas palavras e na constatação de que realmente sou capaz. Não existe um motivo para sonhar, apenas reconhecemos que efectivamente o fazemos. A vida é constituída por pequenos sonhos que na sua soma formam uma grande realidade.
Por momentos deixei repousar o caderno. Tingi demasiadas páginas. A caneta cessou de escrever. A minha cabeça insistiu em não pensar. Envolto em meu cansaço deixei o corpo ceder à sua vontade. Adormeci. Desliguei do sonho pela qual a minha vida se estrutura e perdi-me efectivamente a sonhar. No caderno guardei as seguintes palavras.
“O mundo incumbiu-me de uma missão. Admirei o céu. Vi o azul tocar-me, numa chuva infinita de interrogações. Pensei ser possuidor de algo concreto. Pensei que sonhando controlaria o sonho. Pensei que o concretizava. Apercebi-me que na verdade sonhava… O sonho comanda a vida. Será possível viver numa dimensão paralela? Sonhar. Apenas sonhar e com este sonho viver uma vida de harmonia. Existe algo que me consome o interior e que exteriormente se expressa em poesia. Nunca me contentei com dissertações de fachadas e tretas. Cresci rodeado de palavras que sempre formei com letras.
Queria voar com um pedaço.
Queria marcar o meu passo.
Queria amarrar-te com laço.
Queria riscar a palavra fracasso.
Queria triunfar.
Semear e colher
Quero-me entregar.
Com esta arte morrer.
Procurei sonhos, tentei
compreender a vida e errei.
Venci, lutei e perdi.
Fiz tudo para provar ao mundo
que gosto, do que vivi.
Mas nada prova
e o meu ser comprova,
que venci, lutei e perdi.
Guardamos sonhos e canções. Guardamos memórias e lições. Guardamos versos, guardamos quadras. Há quem guarde segredos. Há quem revele fachadas. Existe quem vença. Quem perde e volta a tentar. Existe os que se aventuram e os que não regressam desse mar. Repartimos sensações e guardamos o que o coração tende em esconder. Por fim morremos em lágrimas, o que o coração não deixa ver. Pintamos num a4 expressivo as linhas que compõem toda uma vida. Por fim, riscamos na pele e rasuramos os erros até desvendar e provocar ferida. Abrimos portas e guardamos a chave para no futuro podermos voltar. Guardamos mágoa, rancor, que nos prende a um lugar. Guardamos sentimentos, silenciamos e obrigamos a não serem. Vemos e matamos coisas que julgamos, serem boas demais para um dia se terem.
Em sete chaves enferrujadas, guardo histórias nunca antes contadas. Vontades não reveladas, e certezas que nunca serão verificadas. Sonhos de outrora que agora deixaram de ser sonhados. Guardado em sete chaves em baús nunca encontrados. Tesouros que nunca terei, um sucesso jamais alcançado. Guardo um sonho desmembrado, de uma vida perdida no seu fado. Um suspiro profundo. Um desabafo mais que extenso. Entre tristeza e alegria, oscila o meu mundo tenso. Entre vitória e derrota. Entre ter ou ver partir. Entre vontade de triunfar e a vontade de desistir…
Um sonho por mais que seja extenso, não nos impede de o atingir. Maior será a sua extensão, se algum dia ponderarmos desistir. Não existem sonhos difíceis de alcançar. Existem apenas pessoas, que se empenham pouco para os realizar.”
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Publicado: 09/07/2011 22:50 Atualizado: 09/07/2011 22:50 |
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Re: História de um sonho (Parte 2 de 2)
QUE MARAVILHA DE POEMA DEIXO MEU ABRAÇO.
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