Hoje faz sentido. Amanhã secalhar já não e talvez me rirei destas palavras ou não me ligarei com elas, embora sabendo que continuarás tatuado no meu coração.
Mas hoje, sim. Hoje fazem todo o sentido.
Por isso escrevo-te do fundo do meu coração, lembrado o passado.
Já te declarei um tanto ido, mas esqueci-me de declarar que outro tanto ficaste. Senão todo e apenas escondido. Escondido em partes de mim que não me costumam visitar mas que, em noites escuras e de solidão, me supreendem e me invadem, trazendo toda a doçura do que foi, mas já não é, da loucura aberta ao mundo, da paixão ainda acessa.
Crescemos, ambos crescemos. Crescemos no mesmo sentido, apenas em direcções diferentes. Continuámos genuínos, apenas mais ausentes. Ausentes do que fomos. Mas eu sei que não te afastaste do quão genuíno sempre foste, apaixonado e verdadeiro.
Os teus olhos ainda me mostram a perfeição e a paixão, o teu sorriso ainda me mostra a beleza e a loucura. Mas as semelhanças que nos juntaram, foram as diferenças que nos separaram.
Por mais memórias tuas que tentei afastar de mim, por mais vezes me tenha dito a mim mesma que era hora de deixar ir, guardo aqui dentro um retrato teu e memórias que não posso mandar embora, memórias dos momentos incríveis que me proporcionaste, daquele pequeno mundo onde apenas nós existíamos, nós e aquela inocência que abrimos juntos.
Crescemos, sim, mas essa inocência, por mais descoberta que a idade e a experiência a tenha deixado, o amor trá-la sempre de novo a mim. A inocência do primeiro amor, a inocência de dar as mãos e ficar apenas debaixo das estrelas a mirá-las, sentados num banco de jardim.
Por mais velhos que sejamos, essa inocência não se irá, ficará o tempo preciso que o amor ainda ficar. Não memórias dele, do amor, apenas ele.
E tu, tu ainda permaneces. Permaneces ainda em mim, já não tão vivamente, apenas marcado, escondido nos meus sorrisos que me fazes soltar com memórias.
Ainda me fazes acelarar o coração quando te vejo sorrir, quando és tu mesmo e percebo que não mudaste tanto assim.
Mas, meu amor, crescemos e connosco levámos certos pensamentos, certa maneira de pensar e de viver. Não somos quem fomos, embora ainda semelhantes.
Posso não adorar as tuas escolhas, posso não adorar os teus caminhos, mas amo-te, ainda te amo. Desta vez, apenas mais discretamente. E eu vejo nos teus olhos e oiço nas tuas palavras que me amaste sempre. No entanto, esquecemo-nos do tempo, que ele existe.
Tempo, meu amor, culpa o tempo; o tempo que nos mandou crescer.
Laura Justino