Entrei por um portal.
Não havia cômodos
Somente amplos espaços
E folhas secas, espalhadas
Adentrei o espaço-tempo
Sem olhar os ponteiros
Ou preocupar-me com as horas
A cada passo, sentia-me mais leve
Havia nuvens em "nimbos"
- Pareciam ter vida própria -
A observarem meu andar trôpego
Neste novo portal da existência
De fato, era estranha sensação,
- Curiosa e perturbadora -
Diferente de tudo quanto vivera,
Em mim despertava um bem-estar
Como de há muito não sentia
Tampouco as folhas tocara
- Ah, sim, muitas de papel-ofício
Ou boletas de contas impagáveis -
Neste primeiro portal
O ar era fresco, a luz do sol mansa
Ouvia sons ao longe, músicas de esferas
Havia partido numa viagem, mas onde estava?
Sentia uma certa ambiguidade!
Um desejo de voltar correndo
Para o caminho que há pouco deixara
- Ainda havia pegadas no solo úmido -
Ainda haviam marcas
- que em mim carregava -
Dos tantos anos vividos
De tantos entes queridos
A saudade vinha e ia em ciclos
Mas, a ansiedade costumeira
Fora substituída por serenidade
Que nunca dantes sentira
Percebia que não caminhava só
Uma energia gravitava ao redor
Silêncio somente quebrado
Ao pisar gravetos e folhas
Não me dei conta do tempo!
Aí, apareceu uma fonte de água límpida
Debrucei-me, apanhei água com as mãos
Saciei a sede como beduíno ao achar oásis
De repente, miro no espelho do córrego
A minha própria imagem, espantei-me
Olhei em volta, não havia mais ninguém
Supostamente era eu próprio refletido
O que vi era bastante diferente dantes
Era uma formação fluida, etérea
Circundada na periferia por halos de luz
Com algumas áreas cinzentas outras claras
Percebi que definitivamente transmutara,
Que o corpo físico para trás deixara,
Que o espírito vivo seguia liberto
Na nova estrada de minha evolução.
AjAraújo, o poeta humanista, escrito em 4 de julho de 2011.