Poemas : 

Cápsula

 
Cápsula
 
"Mãe, olha o que encontrei."

É dura.
Tive que a morder: puro ouro?

- Uma dádiva, podes crer, uma dádiva
Postra-te, não decifres, sente.
Cessem o não necessário: respirações. -

Está brutamente perfurada, milimétricamente.
Reage à epiderme: calor. Fundem-se irmãmente.

- Encerrei já as portadas do vulgo visível, não, tacteio apenas.
Presenças nada mais serão que o que me vier arrebatar. -

Desejo ficar aqui.
Suspensa no trapézio ebóreo da transparência.
As minhas mãos conservam a cápsula.

"Já aqui estávamos, os outros é que não deram por isso."

São sussurros, serena-te, são sussurros.
Conduzir-te-ão, excertos musicados em temeridade.
Hesito no sentido a dar-lhes.

"Guardei em mim o gérmen de uma afeição quieta,
Hoje árvore de querer brotando do meu peito."

Foi por isto que vieste. Por eles que vieste.
Estás aqui: anuncia-te.

- Respondi à existência pela regeneração. -

I am the Healer.

- Respondi à existência pelo sacrifício. -

Tu és o sacrifício.
Despe-te. Despe-te do afável, da transitoriedade.
Gera as aras rituais, pertencem-te.
É a Hora, uma vez mais.

"Está tudo bem, vai ficar tudo bem."

É a Hora.
A cada passo materializa-se o declínio
Repousando sobre a feminilidade própria,
As magnólias do teu peito, o ventre sideral da criação.
Moldando-te. Reclamando-te.

- A cápsula: permanece impassível na enseada crepuscular.
Tudo quanto possuís. -

Violento, por demais violento, um compasso acidental.
Uma queda, compressão instantânea do equilíbrio, fluí. Quebrara.
Surpresa.

"(...) how unbroken everything became."

(O verso final foi retirado de "you came into my dream ", da autoria de Anis Mojgani)
 
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MEduarda
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Enviado por Tópico
Migueljaco
Publicado: 01/07/2011 18:21  Atualizado: 01/07/2011 18:21
Colaborador
Usuário desde: 23/06/2011
Localidade: Taubaté SP
Mensagens: 10200
 Re: Cápsula
Boa tarde MEduarda, seus versos narram uma personagem em processo de transmutação, hora habitante da dialética, hora habitante da subjetividade, e assim vai buscando um entendimento das mazelas que lhe circundam, parabens pelo seu instigante poema, MJ.


Enviado por Tópico
Ricardo_Barras
Publicado: 01/07/2011 21:19  Atualizado: 01/07/2011 21:19
Da casa!
Usuário desde: 03/04/2011
Localidade: Lisboa, Portugal
Mensagens: 387
 Re: Cápsula
Boas tardes, tardes boas! Hehe

Gostei imenso de ler o seu poema...

Senti-o como uma história!

Uma gruta sombria onde se procede a um ritual macabro, o sentimento da oferenda...

Bravo.

Abraços!

Ah! E seja bem-vinda (: