Livro o coração...
Vejo-te naquela mesma esquina
onde sempre cruzo a rua às cinco,
olhando-te e o meu olhar mentindo-me,
vendo-te sem te enxergar.
Me olhas de graça como um anjo
e eu, diabo manco, apenas passo
deixando o fétido rastro
que a vida me deu.
Do teu olhar esperador
sobrar-te-á apenas o meu desamor
porque não amo nem a mim mesmo.
É tolice essa rua onde vives
e engano aquela esquina
onde bela e meiga me esperas às cinco
quando indo ou vindo
eu te desencontro / desencanto.
Cria o teu próprio atalho e vai, segue,
não me deixes levar-te ao meu inferno.
És um anjo, eterno e sem maldade
assim como ‘inda te vê meu coração,
essa peça única que carrego à mão
para ao meu corpo mau não se misturar
e despedaçasse como eu, com minha alma amargurada!