Ouvi os gritos saindo debaixo das asas de pedras
Clamando pela liberdade de um poema qualquer,
Como divindades espalhadas por intensas selvas
Queriam apenas navegar no dorso de uma mulher,
Ou então formatar a emoção de um desejo frustrado
Ou atenuar a dor de um coração partido,
Poderiam se insinuar entre velhos camaradas
Ou mesmo cavalgar sobre um tango esquecido
Propuseram povoar velhos teatros,
Espirar no último suspiro de um criminoso
Ecoar nas catingas, nas vilas, nos átrios,
Navegar sobre as ondas de um mar tenebroso.
Imploravam pelas mãos carentes dos poetas,
Indiferentes aos uniformes estabelecidos,
Tinham sede de sangue, suor e cerveja,
Pois sem elas os homens serão esquecidos.
Uma a uma foram se libertando
E preenchendo as lacunas de uma noite fria,
Irromperam pela madrugada adentro
Tecendo um painel para saudar um novo dia.
Finalmente se deitaram sobre os versos
Deixando-se possuir por seus fiéis amantes
E depois como os homens mais perversos,
Recolheram-se; tudo voltou a ser como antes.