O sangue começou a correr mais forte numa crescente de agonia.
Estavas morto.
Tornavas-te agora na recordação que guardo na caixa do peito.
Era o funeral, o tempo estava incendiado por um vento gélido, estavas na capela perdida entre correrias loucas de chuva que não parava de cair sobre as roupas escuras de quem ia ao encontro do teu corpo inconsciente.
Levaram-te na carrinha dos perdidos para o absoluto, ouviam-se as rodas sobre as poças de lama que nos assaltavam o cérebro e faziam florir pequenas, medíocres, enormes raízes de lágrimas nos olhos que viviam na imaginação de te ter vivo e Sol durante aquele dia, aquele único dia.
Vi-te uma ultima vez, deixaram-me só com o teu corpo falecido.
Toquei-te levemente na pele paralisada, passeei com as minhas mãos sobre as tuas, não te sentia apertar, o teu cheiro agora era a madeira e daí a diante iria ser de um corpo apodrecido.
Estavam agora a enterrar-te, baixavam-te manso naquele buraco para onde olhávamos e sentíamos a frieza do futuro sem ti, a tua presença outrora fizera palpitar montanhas.
Deixei-te morto.
Vim para casa, sentei-me sobre a nossa cama que tinha o teu cheiro vivo, tinha o descontrole do nosso amor morto.
Deitei-me sobre as ondas dos lençóis onde tínhamos feito amor... Por momentos ainda senti a tibieza da tua mão morta.
les fleurs mortes.