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Madrid

 
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Lhe pediria os documentos se não me fosse pertinente ver aquela criança se passando por mulher.Estampado nos extremos da face,marcas saturadas de rosa opaco,as pálpebras borradas de azul e dourado denunciava sua falta de pratica,mas mostrava criativo empenho em cultivar uma personalidade,sua maquiagem dava uma noção de cortesã recém aceita ao labor do oficio.


Entrou no ateliê pacifica e muda,demonstrava ter costume ao freqüentar tais espaços,sem ao menos nunca ter conhecido as estações onde transmuto os cogitares,triunfante,creio eu,em não demonstrar medo nem ansiedade nenhuma,cruzou o piso descalça,deixando aos pés do cavalete suas sandálias empoeiradas


Movia-se num vestido curto onde se exibia as covinhas da nádega exposta,um tecido acetinado envolvia sua derme macia,transpirava um cheiro de suor feminino,tão perfumado,harmônico,vivíamos uma semana onde o vapor flutuava pelas vias estreitas,as janelas vulneráveis não eram capazes de alterar em nada a temperatura,quando muito eram lentes para movimentar as claras influencias do dia.


Os botões da roupa serviam de eixo simétrico,criando um equilíbrio sobre ela.Quase nenhuma forma era suficientemente objetiva naquilo que sua postura interpretava,me transmitia impressão dela ser revestida de cobre,pela refinada essência que sua pele destacava,seus olhares como um abismo sensual,negro com rara aparência de turmalina,traços rústicos velava seus olhos,sobrancelhas largas e escuras seguindo a curvatura da face,se favorecia da luz refletida pelo espelho,seus cachos formados na ponta das ondas de cor de sépia,alem dos fios desalinhados caindo sobre seu rosto quando sorria impaciente.


Os metais lhe pesavam como enfeites excedendo o necessário,era um espetáculo ficar sentado vendo seu empenho em parecer natural,descosturar as emoções das tramas de pensamentos cadentes,conclui ser um crime assaltar aquela criança,roubar sua imagem para servir de fuga cotidiana para algum burguês afeminado.


Enquanto lia seus movimentos ela permanecia fechada em suas concepções,acredito que via em mim um monstro,excluído do senso comum,um marginal envelhecido que se usa dos quadros para ter meninotas desfilando nuas pela casa,era um desconhecido perante quem ela revelaria suas intimas posses...voltei a me questionar,quantos anos ela teria?


Quando muito,uns dezesseis ou dezessete anos,qualquer uma dessas cabrochas são frágeis enfeites de parede nos meus retratos,figuras que sustentam minhas necessidades primarias,necessidades literais demais para me manchar com suas menarcas.


Todas tinham seus motivos para pousar...filhos,família,contas...um fator comum a tudo é o dinheiro.


Poder ficar ali imóvel,estática,ainda nesse tédio penitente arrecadar uma prenda,mas arte não se faz com imagens sem espírito,sem personalidade,idéias que não podem passar despercebidas.


Notei que seus olhos curiosos visualizavam tudo ao seu redor como tentando descobrir em que prato seria servida,inebriada pelos odores das tintas,dos solventes e secantes,mesmo o ar marcado pela fumaça do meu cigarro cortava entre um trago e outro aspectos exatos daqueles aromas.


Suportou num olhar turvo aquela aguá destilada,engolia mantendo vivo meu interesse em sua atuação,rubra ao paladar forte do destilado germânico, umideceu apenas a boca,num gole tímido os passos lentos iam morrendo,assassinei sua sóbria natureza infantil.
No segundo gole de vodka,já planava pelo espaço com lábios vertidos em rosa mais pálido,enfim...estava pronta para a peça.

 
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Anjuh223
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