Língua gasta neste latim de palavras
Que o latim é língua gasta,
E só se come em certos sítios.
Que comer e beber se entregam no verbo bem viver!
E no adjectivo devagar.
O almoço é leve que há pouco dinheiro.
A janta breve nos cantos e aleluias,
Sobejando meio litro de arrufos e desalinhos
Entre os convivas.
A miséria chegou à realeza
Latim e água benta só já permanecem
Sem hóstia nem dinheiro com que se façam.
Padres descalços invadem agora as ruas
Cheias de cães sarnentos
E sem comer para lhes dar
Morrem famintos pelas terras
Ou doença
Outrora médicos da razão
Hoje médicos do pão
Recorrem a magia e aos artifícios
Gritam comigo por nada.
Natureza sem pinta.
Gnomo esfomeado!
Bruxo sem receituário
Santo sem o ser.
Pecam nos meus artelhos desfeitos,
Em tanto cântaro levantado.
Músculos contraídos
Explodem de energia!
Subalterno nos meus instintos
Sobreviver já de velho,
É um sonho descolorido!
Jogo mil palavras
E perco-me nos sinónimos!
E dos antónimos!
Mas jogo mesmo no velho e sujo jornal
Mil cores entrelaçadas de vidas
Cores de mil rostos
Mais de mil são os rostos!
Que são pintados a mão,
Pela pena do pavão.
Enrijece no luar,
E na manhã fria!
Levanta voo o condor
Em direcção ao palácio
Onde vive o padre Inácio.
Muitas borradas se fez.
O mais puro dos homens
Na preguiça de um lampião
Escondendo a fadiga!
Nos lençóis feitos de ofertas.
Alma pura e venturosa,
Arrancada a dentes no martírio
E no suplicio doutrinal!
Obriga a quem ante deus
Responde a uma só voz
Que é a sua igreja!
Viva dentro de si!
Como clarão as almas atormentadas.
Onde o tom da cor já passou
Onde a dor veio para ficar.
Limpar as borradelas e aparar o perdido
Limpar com sebo a falsidade.
Corar ate fazer brilho
Levantar o véu da fortaleza
Que existe dentro de cada um de nos!
Se é que a querendo
Me deixo realizar como louco deste mundo
Ou como deus num outro
Próximo deste!
Levantar tantas são as cores perdidas.
Almas e vidas que perdi
Neste bem maior que é a escrita!
Escrevendo restituiu a mente
A desolação da dança
Mergulhando na calvície dos meus costumes
Principiante embora apressado
Em dar a luz
Mais um estigma
Para comigo possa falar.
Desse enigma na dor
Bailando,
Cantando,
Tudo em meu redor!
Cruzes de lenho velho já partido
Usurário,
De madeixas se empoleira
No recobro de mais um susto!
Lenho velho no meu jardim
Que foi afinal?
Então o nome de um segundo
Coisa mais alta que nunca se viu:
Era Cristo redentor.
Amando o lenho velho
Que são as cicatrizes de Senhor
Ao lenho velho queimado
Na esperança de quem alcança
A virtude da paciência!
No leito de um rio
Ou no peito do meu senhor
Consigo paz e um pouco de raciocínio.
Que falar a deus e falar alto,
Receios e vergonha varridos
No palácio do padre Inácio!