Espelhaste-te
Como se espelha a Lua nas águas
Tranquilas de um rio parado,
Não em líquido hemisfério
Como o espelho faz prever,
Deitaste-te antes, comprida,
No comprimento do nosso corpo,
Da tua estesia e beleza,
Deitaste-te e adormecemos juntos,
Em conjunto, infindáveis,
Estranhos à fraqueza
Dos corpos,
Estes corpos, moldáveis,
Que transportam pensamentos,
Ideias, algumas capazes,
A maior parte, já esquecida,
E enquanto tudo isso se desenrolava,
Pintaste o quadro da imagem lá fora,
E segredaste-me os sonhos do mundo,
Esse mundo que sou eu, para ti,
Segredaste-me o meu próprio sonho,
Um sonho que não conhecia, desconhecido,
Não procurado, nesse teu mundo, feito eu,
E eu não me achava encontrado,
Apesar da realidade das palavras
Segredadas, neste ouvido ainda hoje
Aguardando por ti,
E, lá fora, as ondas esbatiam-se
Como a tinta do teu pincel,
No embalar do meu barco,
Do iate que havia construído,
Com o papel desses sonhos,
Esses sonhos, que tinhas visto,
Quando me agarravas a mão,
Então, iremos para os barcos,
Esses barcos frágeis,
Esses barcos, de papel,
E afundar-nos-emos
Espelhados na Lua...