Dor. Sábia dor.
Já me pertences. E eu a ti.
Até já me transponho a ti. Estou acima.
Já nem te sinto. Nem tenho medo de ti.
Quando tuas asas sombrias pairam. Param.
No ar dos meus pensamentos. Bem vinda.
Quando laceras. Já imperceptível. Coitada.
De mim. De ti. Pobre dor.
Quando ultrapassamos as tuas fronteiras…
Ficamos livres. Libertos de ti. Do medo.
Podemos então sentir tudo. Ou nada. Tanto faz.
Ficamos apenas a contemplar a ti.
Tuas vestes sombrias que ensinam. E desnorteiam igual.
És antagonicamente linda. Linda.
Trazes melhoras a mim. Depois que atravessa-me. Paz.
Te ver passar. Sem mais alarde. Não mais.
Numa sensação de quase levitação.
Levitação sobre mim mesma. Sobre os fatos.
Sobra feitos. Sobre efeito da ausência do medo.
Não sinto mais. Não te sinto.
Sei que me acreditas. Não me olhas assim.
Não chores. Tuas lágrimas embaçam os meus olhos. E sentidos.
Assim… estragas todo o meu papel.
Estás perdida? … Encontra-te em mim!
Sei que andaste a conversar com o “Pessoa”…
Sei ainda que bem te explicou…
Que “O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente…
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente...”
É mesmo assim. Infelizmente.
Feliz_mente o poeta sente. Só não a dor.
Porque a dor. Tu… resides permanentemente.
E já não se sente. Num único espaço. Tu e alma.
A minha. Sou tua. Bem vinda.
Karla Mello
karla.melo66@hotmail.com"Nao tenho ambições nem desejos. Ser poeta nao e uma ambição minha. É a minha maneira de estar sozinho." (Fernando Pessoa)
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