Comecei em ti
No auge das palavras
Desenhei linhas, subi montes
Corri vales, conquistei montanhas
E saciei a minha sede primordial
Nas águas salgadas da tua boca
Na saudade de teus olhos
Embalado pelo teu sonho
Fiquei, branco como um dia de mar
Num espasmo sorridente e febril
Enquanto as tuas mãos de vento
Me serviam papoilas e malmequeres
Como manjares
Mas hoje sinto o outono
Na minha pele na tua em mim
E são ácidas as manhãs
Que desperto sem calor
O calor da aurora que te trouxe aqui
Do fogo que me calou o medo
E me afogou em delírios
Tropeço em vidros partidos
Lágrimas estilhaçadas de suspiros
Comprimidos, peganhentos como eu
Nos lençóis que já foram de prazer
Num entrelaçar de pernas sem fôlego
Sem vida, sem nós dois...
Comecei aqui, assim...
Em ti amando, e amado
Num instante de beleza chorada
Que foi efémero existir
E eterno sentir...
E em ti termino, meu amor
No fim das palavras
--HP
"O espaço onde pertenço está definido algures
Numa palavra que eu ainda não sonhei"