Faltou dizer aquele pequeno nada
que por medo ou protecção
deixamos ficar encaixado na garganta
até o sentir desvanecer...
Será que o mundo sabe...
que todos os dias
inventei uma cor diferente
para pintar o teu céu?
Queria ter um acordar original
e tu fazias parte do meu quadro mais que perfeito.
E quem conhece...
o sorriso que eu pregava na cabeceira
só porque algumas palavras
deitavam-se na cama comigo?
Faltou dizê-lo...
mas a língua travou
na minha boca cerrada.
E a força de um sentimento inexplicável?
Não usava cordas...
muito menos amarras.
Dava-me toda a liberdade
e muitas vezes elevava-me aos céus num segundo.
Mas nunca ninguém
me soube explicar
porque é que a dor da queda era tão atroz..
E eu levantei-me sempre
mesmo quando do meu corpo
só sentia os ossos
porque a carne
dentro de mim
converteu-se em pó...
Feridas na pele...
rasgos no peito...
mares à solta na madrugada do olhar...
beijos trocados nas cinzas da noite...
Tantos nadas que ficaram por contar...
Acho que espetei a caneta na alma
com tanta força...
que nunca mais fui capaz de a tirar
para rejuvenescer o meu poema
e eu envelheci calada.
Daniela Pereira