Hoje só, vendo seu quadro na parede
Lembrei-me dos dias felizes de antanho
Quando eu te via, semi-nua, deitada ao sofá,
Com as pontas dos dedos roçando o tapete,
As pernas torneadas e grossas à mostra,
Os cabelos em mil novelos caindo pelas costas!
Como eu me fartava em um deleite libidinoso
Imaginando serem silvas do mato seus suspiros;
Uma torre de afago misto com marfim, seu pescoço;
Um diamante de gigantesca dimensão, seu coração;
Pérolas furtadas dos antigos reis do oriente, seu sorriso;
Tênues teias prateadas os nevados dedos da sua mão!
Entorpecido dei asas as minhas próprias fantasias
Pintei o arco-íris em mechas nos seus cabelos
E parecia que eu via seus olhos luzidios me sorrirem;
Uma cachoeira eu pintei em seu formoso colo;
Em cada pêlo da face o pincel fez um sol amarelo...
Dois sóis de negror afogueados lhe pus nos olhos;
A cada movimento da minha ofegante respiração
Meu pensamento pintou-te toda de constelação!
Ali estava você com seus pensamentos e seus segredos.
Ninguém ousa conhecer a mulher e seus mistérios
Nem até onde podem chegar seus temores e medos;
Se elas nos dão bálsamos do céu ou fogos dos infernos.
Não seria eu, minha doce amada, que tal feito faria,
E digo-te que nunca foi e nem é essa a minha intenção.
Apenas sei que estou encostado no portal te velando,
Esperando-te quando raiar o sol da nova estação!
Gyl Ferrys