não tirem o vento às gaivotas - sampaio rego sou eu
há um silêncio que vive dentro de tudo o que penso – a boca serve para mastigar a fúria das palavras que não digo – nos dias em que o contrário de satisfeito me encontra. deixo cair a cabeça – por detrás do reflexo. a sopa. cada vez mais fria. cada vez mais incapaz de aquecer as palavras. sempre mornas – regurgito – há um vai e vem entre a moela que trabalha com grãos de sensatez e o céu que não encontro à boca – há um inferno – ainda tenho palavras para dizer – escrevo – um dia morro sufocado neste meu silêncio – há quem pense que digo tudo. não digo. o silêncio é sempre mais forte. e os homens sem ouvidos foram sempre muitos – talvez não saiba contar. talvez nem todos fossem homens – talvez – estou a apagar-me. quero apagar-me. os dentes. estes. aqueles. não mastigam o suficiente para acabar com o silêncio dos homens que invadem os dias. agora os dentes já não são estes. aqueles. são todos - há um passado com homens. tinham horas. minutos e até segundos. eram homens de todos os meus dias – há ainda um silêncio vivo. mas já não é aquele. nem este. é tudo. é tudo silêncio – ainda – um dia serão palavras
http://sampaiorego.blogspot.com/