Iludi-me a vida não muda com um corte de cabelo diferente, com um novo batom ou com um pretinho básico curto e transparente.
Lá no fundo, estamos iguais. Os medos continuam sem metáforas ou pontos finais. A pequena tragédia diária permanece.
Cada um está dentro de sua pobre torre esperando absolvição, uma mão estendida, ou talvez a própria vida que anda correndo e sem olhar para trás.
Fiz uma grande besteira: assassinei o meu cabelo com um corte ultra-super-mega moderno e ele vai continuar curto por uns dois invernos.
Pensei que seria uma outra mulher, assim como direi... mais para frente, chique, diferente é a palavra certa. Mas, eu...eu continuo a mesma com esse corte que acabou comigo de tão curto que está. Nada mudou. Só ficou uma única certeza: não adianta mudar o lado de fora se o lado de dentro está cheio de teias.
Talvez eu não sirva para ser outra. Eu sou essa mulher(zinha), essa pessoa assim como direi... saída de um livro de poesia e com os olhos cheios de delicadezas e flores. Não sei ser moderna, não sei gostar do meu cabelo como está.
Às vezes, tento ser quem não sou, faço um esforço terrível para vestir essa capa que me deixa forte e arrojada. Mas, no fundo de mim sou apenas mais uma, sou apenas mais nada.
Karla Bardanza
Você está ouvindo meu amado Cocteau Twins cantando Alice
*A leitura psicológica que faço aqui eleva-te ao patamar de mulher(ão). Essa consciência que se deveria ter, e tu cantas aqui, com a força da tua palavra, faz muita falta em nós mulheres! Reflexivo e profundo. Ler-te é uma odisséia interior para mim. Carinho e admiração Karinna*