É lá, onde a recta beija a curva,
a água cristalina fica mais turva,
onde o direito nasceu torto,
a vida o alter-ego do aborto
é aí mesmo à beira do nada,
na água parada, a minha zona de conforto.
É lá, que aqui se torna
onde o caldo mais obscuro se entorna,
onde reinam os vis os porcos e maus,
nesta pedra que é dura e caos,
o que nasce será sempre morto,
na água parada, a minha zona de conforto.
Até o medo, credo, anda de escolta,
e respirar é um meio de revolta,
para puta há sempre puta e meia.
A tempestade é o que se semeia,
ventos à mistura e barcos sem porto,
na água parada, a minha zona de conforto.
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.