Poemas : 

descendente

 
desligar-me do aparelho luminoso.

sair para dentro do ecrã negro da televisão .

trepar pela fuligem da lareira acima
até ser escuridão quieta lá em baixo.

esconder-me atrás da tela de um quadro insuspeito.

rastejar por entre móveis imóveis
até descobrir o local perfeito.

ser papel de parede,
acomodada cómoda,
horizontal aparador parado,
vertical jarra.

ser

escultura invisível,

relógio indiferente do espaço,

a des-ser

tempo acima
num só passo.


cruz mendes

 
Autor
Alexis
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Enviado por Tópico
RoqueSilveira
Publicado: 03/06/2011 15:57  Atualizado: 03/06/2011 15:57
Membro de honra
Usuário desde: 31/03/2008
Localidade: Braga
Mensagens: 8112
 Re: descendente
gostei demais deste trabalho como se fosse dali, uma pintura a escorrer em alturas derretidas. beijo


Enviado por Tópico
GeMuniz
Publicado: 03/06/2011 16:04  Atualizado: 04/06/2011 01:07
Membro de honra
Usuário desde: 10/08/2010
Localidade: Brasil
Mensagens: 7283
 Re: descendente
Descendente tanto quanto ascendente talvez... "O que está em cima é como o que está embaixo (Tábua das Esmeraldas)". Seu poema trouxe-me a sensação de que este descer é, por outro lado, também ascender à uma dimensão mais importante em alguma esfera da vida ou da consciência... Gostei muito de o ler.

Beijo, Alex


Enviado por Tópico
Ricardo_Barras
Publicado: 03/06/2011 16:07  Atualizado: 03/06/2011 16:07
Da casa!
Usuário desde: 03/04/2011
Localidade: Lisboa, Portugal
Mensagens: 387
 Re: descendente
Ver a escuridão a partir da fuligem da lareira, lá em baixo...

Bravo..!

Não tenho grandes palavras para aplicar...

Gostei imenso..!

Abraços


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 03/06/2011 16:18  Atualizado: 03/06/2011 16:18
 Re: descendente
as palavras numa viajem ilusionista pelo interior do invertido, contorcionado, incerto. não descarto da possibilidade posta pela Roque... neste imagético irreal.

beijo e um abração bem Carioca.

silveiradobrasil