Contos : 

Carmim

 
E eu deitado na minha cama, num apartamento que se sustenta graças ao meu medo de
altura, eu deitado muito cansado, cansado de tanto estar deitado, estado de inércia dor que não dói
se é estar-se nela, só dói quando saio da cama, então fico estático, um gráfico de empresa que não
cresce, um litro de leite de saco encima de uma prateleira da geladeira, levo assim desde das onze
da noite do dia antes, uma insónia como qualquer outra, nada de novo, só o meu corpo que não
descansa nem cansa, é simples ser que gira que nem a cidade, dizem que a cidade é uma floreta de
concreto, dizem que a cidade é de temperamento árduo, cú de toda região, não gosto de repetir
frases feitas, por isso que digo que dizem e dizem, e, nunca dizem o que eu digo, ninguém me
conhece, talvez meu chefe, minha mãe morreu, meu pai se encontra num asilo, de-vez-em-quando
vou visita-lo, mas de nada serve, perdeu memória já faz uns anos, para ele não faz anos, ia falar até
algo filosófico(sobre ele), mas eu na verdade não sei como ele se encontra, nunca ninguém disse
nada sobre isso, talvez algum psicólogo, mas eu só leio literatura, meu pai, quando vou visita-lo
crio coragem pensando em que estou pagando uma divida de outras vidas, quando é hora de olhar-
lhe na cara, lembro de um homem que pouco conheci, pois quando nasci ele já estava assim, meu
irmão é que conheceu bem, sempre disse que ele era um aventureiro, um homem de grandes
poemas, um homem de pensamentos maiores, mas hoje o que simplesmente vejo é uma pessoa que
só chamo de pai para não causar polêmica entre os dois, ele e eu, sinto medo que ele sinta algo de
ruim por algo que eu diga, pois ele não pode desabafar, não pode dizer nada e se eu dizer algo que
lhe moleste ele vai morrer com aquilo no peito; uma boca torta cai como um rio(de vez em quando
baba), uma orelha cortada, e um cabelo ruivo como o meu, parece o quadro de auto-retrato de Van
Gogh, meu irmão, meu irmão... brigamos faz uns anos, antes da saída dele para São Paulo, ele e a
mulher, foi mais uma fuga, ela armou tudo, queria se livrar do pai(meu e de meu irmão, e das
dividas familiares, hoje meditando sobre tudo nesta cama, que nem dói, nem faz alegria(a pura
vida), levanto um grito aos céus ao cú, dou grito bem orgulhoso e talvez até consolador, que eu sim
sou filho dele! Até por não me sentir sozinho neste mundo.
Dês de está cama, escuto os animais da floresta, fazem um barulho real de floresta, um ruge
“biiiiiiiiiiiiiiiiiiii”, outra se acasala “paffffffffffffff”, outra freia e morre! Enquanto eu que estou por
cima dos lençóis, com o pescoço por cima da almofada, as perna formigando... Não sei se há alegria
ou pranto, se demônio ou se há santo, se há morte ou corte, se há vida depois da vida, ou
simplesmente frases-feitas.


LUCAS LIMA M.

 
Autor
LucasLimaMota
 
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