Naqueles tempos a aldeia encostada aos desfiladeiros, da serra perdida, era o desencanto do contínuo labor das gentes que a habitavam, num cansaço exasperante. Não havia o antídoto que fertilizasse, na forma aguardada, a mais-valia compensadora. Os jovens ali nados faziam do êxodo continuado a escolha das suas opções. Num abandono constante dali partiam deixando para trás o sorriso das borboletas, sem a resistência dos seus antecessores. Eram tempos onde, nas noites escuras, os lobos subiam à serra e uivavam desesperadamente as suas mágoas nocturnas. Os invernos tornavam-se rigorosos e os seus dependentes pesarosos, perante o contínuo enrijar de suas peles e o permanente doer de seus sofridos ossos. O agasalho de todas as noites sabia a tão pouco atendendo à rudeza do frio daqueles invernos. Hoje a aldeia se perdeu na imensidão daquela serra esquecida.
António MR Martins
António MR Martins
Tem 12 livros editados. O último título "Juízos na noite", colecção Entre Versos, coordenada por Maria Antonieta Oliveira, In-Finita, 2019.
Membro do GPA-Grupo Poético de Aveiro
Sócio n.º 1227 da APE - Associação Portugues...