Ruídos, vozes, sensações,
Cheiros que não são de maresia
Panóplia de cores e de visões
Paradisíacas, ou dantescas
Consoante a luz e perspectiva
E ao longe um sussurro
De lusitana criança
Que me chama e interpela
- Para onde vais?
Tal é o mundo que visito
Tais são os poentes que me deitam
E me largam em sonhos antigos
Tais são os bancos frios,
Dos jardins em que me sento
E os pássaros, sempre os pássaros
Que só me fazem lembrar
Os céus e as águas que deixei
Parte de mim ficou espalhada
Pelos areais limpos em cor de mar,
Pelas pedras que já foram minhas
E das lágrimas que reprimi
Nasceram flores bravas
Nos desertos da minha infância
Crescendo em tons de saudade
Mas os ventos levam-me
Para longe, sempre para longe
As memórias diluem-se
A realidade impõe-se
E a minha existência confunde-se,
Esquecida entre folhas de jornal
Entorpecidas e desbotadas
E imagens apagadas pelo tempo
As vozes falam
E eu já não conheço
As nuvens que me perseguem,
Mãos que chegam e que partem,
Que me levam, distante de mim mesmo
Para outros mares, cintilantes
Mas sem o sabor do sal
Sem aquele suave marulhar
E aquele murmúrio de criança
Sussurrando - para onde vais?
--HP
"O espaço onde pertenço está definido algures
Numa palavra que eu ainda não sonhei"