A vida está nestas pequenas coisas, nestas coisas que não ouvimos ou vemos porque estamos sempre fazendo algo para não ouvir ou ver. Ouço Sade e a música faz amor comigo num ritmo tão lento, tão lento que o vento pára para ver a melodia escorrendo de dentro de mim. Danço pelo Dó, nada me satisfaz além deste Ré que está em Si e em mim. O Fá me leva para Lá, para perto do Sol, para perto dos Deuses. Ouço as palavras caindo da boca do sonho e quero o desejo mais próximo enquanto o prazer caminha pela minha pele, pelos meus absurdos doces, existo nesta música.Existo para além deste agora, deste momento de minutos que evapora, deixando o seu perfume nas minhas mãos ressecadas e de ressaca: viver pode ser um porre.
Agarro a vida e ela dança comigo, evoluímos meigamente pelo salão com tanta classe e paixão. Quem olha, nunca pode ver o quanto os meus pés estão esfolados e deformados. Fico de olhos fechados para não olhar as feridas enquanto sangro. Finjo não sentir dor, finjo estar imune ao amor e às estrelas.Minha alma tem tantas músicas, meu passado também: algumas me fazem mal mesmo fazendo bem. Ouço todas com as mãos crispadas enquanto danço e quando terminham todos os acordes, acordo.
Alguém me disse que estou morta. Devo estar...Não sei...Alguém toque uma música para me ressuscitar. Se eu não conseguir abrir os olhos e voltar, por favor, peçam Sade para cantar.