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STRESS URBANO

 
Sou um cidadão urbano, vivo numa cidade de porte médio, em torno de 600 mil habitantes, economia centrada em grandes indústrias de transformação. Inicio com essas explicações, para que minhas colocações não venham parecer simples e frágeis suposições teóricas de um interiorano desinformado e mal acostumado com o sossego do interior.

É que gostaria de dizer sobre o stress. Sobre essa corrida maluca pela vida, pela sobrevida, ou pela simples sobrevivência nos médios e grandes centros urbanos. As brigas pela tomada do maior pedaço do imenso bolo à disposição dos tantos, é algo que me assusta.

Não é raro nos referirmos às calçadas atulhadas de gente passando prá lá e prá cá, como sendo um formigueiro. Sim, um formigueiro de gente e por isso, com a ordem e convenções que as leis e regras impõem, sem o que, com certeza seria um caus. Diferentemente da convivência animal das formigas.

As leis, regras, normais e convenções, contudo, não resolvem a corrida maluca, não coíbem as permanentes tentativas das “cobras engolirem cobras”, dos “Gersons” ludibriarem os corretos com suas tomadas de assalto pelas vantagens.

Isso por si só já vai acumulando tensões e stress. Seja pela incompreensão dos corretos e tidos como frágeis diante da exploração dos inescrupulosos e tidos como espertos; seja pela insegurança dos espertos que temem a continuidade das oportunidades, além dos travesseiros que lhes cobram.

Nos grandes centros urbanos, todos os bens estão à disposição, mas exigem a moeda da troca, o dinheiro e a luta por conseguir mais e mais dinheiro é que leva a todos a mais e mais correria, mais tensão, mais matéria e menos espírito; mais bens e menos sentimento; a soma disso e mais stress.

Nos grandes centros, a carga do marketing e suas metralhadoras são mais certeiras e com vítimas mais fragilizadas diante das tantas possibilidades ao redor, das tantas riquezas ao lado, as tantas invejas que se acumulam por tudo que os olhos vêem e a vaidade cobiça.

Nos grandes centros, o vidro, o concreto, o asfalto, a vaidade fomentada interna e externamente, diminui os valores humanos da simples relação de amizade interpessoal, dos compadres e das comadres, dos interesses puramente humanos, por amigo, do amor e do carinho, em função do tempo estar sempre urgindo na busca por mais e mais dinheiro, por suprir mais e mais as necessidades do supérfluo.

Isso causa mais stress. E causa solidão, causa carências afetivas e outras necessidades que para serem supridas requerem mais e mais dinheiro, pois, tais sentimentos vão sendo desviados para a vaidade material, para a inveja do vizinho, do parente, do “amigo”, numa roda viva e crescente que vai exigindo mais recursos, mais dinheiro e mais stress.

O bolo é grande, as oportunidades são imensas, quase infinitas, mas as formigas também são muitas e muitas. Nem todas conseguem sua porção, pelo menos não na quantidade que buscam e que entendem precisam e merecem. Afora aquelas que, frágeis ou menos dispostas, não conseguem nem migalhas do bolo tão grande.

E isso provoca frustrações, as mazelas emocionais tão fartas nos grandes centros. Isso provoca mais e mais stress.

Mesmo aquele que consegue tirar grandes e fartas fatias do bolo que formiga nos grandes centros urbanos, não se satisfaz inteiramente. Queria mais. Entende que merecia mais. Além do fato de que na medida em que vai guardando mais e mais, vai também acumulando os medos de que os outros venham lhe tirar o que já somou. E o medo de que amanhã pode acabar o bolo. E que o que já tem não será suficiente para viver bem para sempre.

Além, claro, de que sempre tem alguém a sua vista, que tem mais, e ele, ao se comparar, sente-se pequeno, independente do tamanho que tenha e com isso se frutas, sofre e gera mais e mais stress.

Enfim, o stress está aí. Inevitável enquanto formigam as calçadas, cada um sofrendo suas frustrações, unicamente pelo fato de que quer mais bens materiais, além das necessidades, em prejuízo dos bens e valores afetivos.

A violência e por conseqüência a insegurança, outra forte fonte de stress, é oriunda da mesma briga das formigas humanas pelos seus pedaços do bolo. Ninguém vai ficar sem comer, ninguém vai ficar sem seu pedaço de bolo. Seja para alimentar o estômago ou sustentar a vaidade.

Aliás, vê-se, sempre crescendo, os valores afetivos serem substituídos por valores monetários ou materiais, a começar nos próprios berços familiares, quando os pais oferecem bens em substituição à atenção, ao carinho, a afetividade.

Nos menores acumulados urbanos, essas distorções também existem. Mas em menor intensidade. Com isso, o stress é menor e a saúde melhor. A qualidade de vida conseqüentemente é melhor.


EACOELHO


 
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EACOELHO
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