Mas que raio de coisa esta, que me havia de acontecer: tenho aqui um bom pedaço de perna que me não pertence e não acho maneira de a despachar. Tenho cá p'ra mim até, que isto foi coisa má que me fizeram, um bruxedo qualquer ou assim, que me levou o pedaço que me falta e meteu aqui outro de uma desgraçada qualquer, moribunda com toda a certeza, visto que ainda nem por ela deu...!
Por mais que esperneie, que me esprema todinha até se me secar o fôlego, é escusado que a coisa não vai lá de maneira alguma.
Todos os dias é isto: quero caminhar, que tenho o mesmo direito de toda a gente, e o diabo da perna não me obedece. Ora se arrasta ora se alapa, como bem lhe apetece, mas andar como deve ser é que é o elas. Faz birra e só lá vai com a promessa da muleta a quem dou a mão do outro lado, a ver se me não estatelo ao comprido no chão.
Mas nem queiram saber a falta que me faz o diacho do naco de perna que me trocaram por este, que me não serve p'ra coisa nenhuma!
A ver se durante a semana que vem, dou um jeito de o trazer de volta. Mas p'ra isso, ainda tenho muito que dar ao "canelo"!
Nem de propósito, então não é que hoje me ligaram do serviço, não que me quisessem perguntar se por acaso estaria melhor, mas antes porque queriam saber quando é que ía trabalhar, qualquer coisa por causa das escalas e da falta de gente... já nem doente se pode estar descansado.
Há coisa de uns três quartos de hora atrás, na despedida entre os desejos de bom fim de semana e um até segunda feira, disse ao meu fisioterapeuta que hoje escrevia sobre o pedaço de perna que me falta e que tanto me tem ralado; E ei-lo aqui!