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MEU MUNDO CAIU

 
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Gê Muniz

MEU MUNDO CAIU

Foi num desses dias de verão com muita chuva: o teto de estuque da cozinha de minha casa despencou inteirinho igual grossa crosta de papel muito pesado, minado pelas águas que recebeu devido a um par de telhas quebradas. Lembro-me de como provocou imensa e profunda tristeza observar o estado caótico lastimável e a quantidade de cacos, pedras, água e barro espalhados pela cozinha.

Rapidamente mandei consertar o teto, não sem antes tratar de juntar eu mesmo todo aquele entulho depositando-o num grosso saco de plástico, que, devido à composição do material, resultou num recipiente molenga, frágil e extremamente pesado. Desde esse dia criei esse monstro: um imenso e desajeitado saco negro e brilhante decora um naco razoável de quintal e habita por cá há uns bons meses. Como o tempo passa e a gente não percebe... O tal monstrengo bizarro foi se criando matreiro porque, devido ao seu enorme peso, eu não conseguiria removê-lo sozinho. Temo que, mesmo com alguma ajuda, caso se tentasse suspendê-lo, o saco cederia à pressão gravitacional do próprio conteúdo, esgarçando e rasgando os seus fundilhos.

E não é que acabo de me dar conta de que por essa procrastinação me tornei refém daquele saco-mala-sem-alça?

Primeiro, porque ele se impõe majestoso, tal fora uma estátua recoberta de algum eminente político prestes a ser inaugurada num estranho comício a ser realizado nos recônditos da minha casa: realmente é impossível ignorá-lo. Segundo, que toda vez que vou ao quintal não consigo abstrair-me da imagem poética do quanto o pedaço de um céu particular pode tornar-se tão inconveniente quando desgarra de seu elemento natural - o ar - e aterrissa sem asas, sem leveza, estabanado, ao solo.

Não bastasse esse final, ainda tem mais. Que agora ao escrever o texto também não me sai da cachola o trecho trágico que inaugura a letra de uma outrora famosa e triste canção. Era assim: “meu mundo caiu e me fez ficar assim” - há muito, já pranteava com rara afinação sobre os inusitados tombos do céu a nossa maravilhosa e sentimental Maysa.
 
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GeMuniz
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Enviado por Tópico
DianaBalis
Publicado: 27/05/2011 02:35  Atualizado: 27/05/2011 02:35
Membro de honra
Usuário desde: 23/07/2006
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 Re: MEU MUNDO CAIU
Rio da piada e sinto muito por ter-se tornado refém, rs mas olhe aqui aconteceu que o chão cedeu para cima e fiquei eu a gritar que era terremoto! boa noite, beijos.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 27/05/2011 03:00  Atualizado: 27/05/2011 12:10
 Re: MEU MUNDO CAIU
temos que perder essa mania de manter sob nossos olhos os céus que desabam em cima da gente. só por ser poético, é um risco. pode virar um inferno.rs. quando desaba, é porque já não presta mais, é hora de substituir... (receita com miliumas utilidades).kkk

abração mano Gê

'Seu Zé'


Enviado por Tópico
carolcarolina
Publicado: 27/05/2011 04:00  Atualizado: 27/05/2011 04:00
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 Re: MEU MUNDO CAIU
Amigo Poeta
Ge!

Adorei a história do saco!
Mas pegue outros sacos, e vá levando embora aos poucos, cada dia um.
Ficar refém do saco, nunca!
Gostei da imaginação
Bjos
Carol


Enviado por Tópico
Nanda
Publicado: 27/05/2011 06:23  Atualizado: 27/05/2011 06:23
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Mensagens: 11099
 Re: MEU MUNDO CAIU
Gê,
No meu trabalho as placas de estuque do teto falso também estão a cair sobre as nossas cabeças debruçadas no trabalho. Mudámos de ala para evitar o pior e aguardamos as necessárias obras.
É assim, amigo...
Coisas da vida e há "sacos" que nos assombram feito fantasma.
Gostei muito da tua crónica.
Quando deres conta do saco, avisa!
Beijo
Nanda